De acordo com dados divulgados pela Receita Federal na última semana, o governo federal arrecadou cerca de R$ 6,8 bilhões com a tributação sobre as empresas de apostas online de janeiro a setembro de 2025. Em comparação com o mesmo período de 2024, a quantia representa um aumento de cerca de 17.000%, uma vez que, no último ano, a arrecadação foi de R$ 38 milhões.
No total do primeiro semestre de 2025, o esporte brasileiro recebeu R$ 773,9 milhões repassados por bets. O valor advém dos 4,4% da receita bruta obtida pelas empresas de apostas esportivas, que faturaram R$ 17,4 bilhões no período. O valor está dentro dos 12% que as companhias do ramo de aposta de quota fixa são obrigadas a destinar.
De acordo com informações da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação), R$ 478,9 milhões foram destinados ao Ministério do Esporte, R$ 154,9 milhões foram enviados ao Sistema Nacional do Esporte, R$ 47,5 milhões para o Comitê Olímpico do Brasil, R$ 28 milhões para o Comitê Paralímpico Brasileiro, R$ 15,1 milhões para o Comitê Brasileiro de Clubes e R$49 milhões para outras entidades.
"Desde a regulamentação das apostas esportivas, o setor impactou positivamente o país com a geração de milhares de empregos, repasse de bilhões de reais em impostos e investimentos substanciais no setor esportivo. Além do apoio direto ao esporte, como o patrocínio a todos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, o setor de apostas contribui com mais de R$ 700 milhões para o esporte por meio de repasses indiretos, o que contribui significativamente para o desenvolvimento do ramo", afirma Alex Rose, CEO da InPlaySoft, empresa internacional de tecnologia para apostas esportivas.
Para Marcos Sabiá, CEO da Galerabet, o Brasil possibilitou o estabelecimento de uma indústria relevante no entretenimento por conta de alguns fatores. Entre eles, o fato de ser a oitava maior economia do mundo, ter uma relação histórica com jogos, um sistema financeiro que propiciou meios de pagamento rápidos e seguros e a chegada de gigantes do setor que já atuam em países regulados.
"Destaco três setores: meios de pagamento, tecnologia e marketing, em especial o mercado publicitário e de patrocínios. Sem dúvida, o sistema financeiro do Brasil, que conta com instituições sólidas e tecnologia pujante em numerosas instituições de pagamento, além de meios de pagamento avançados como o Pix, propiciou o florescimento de um mercado saudável e seguro nos jogos online", avaliou.
Publicada no Diário Oficial da União em dezembro de 2023, a lei que regulamenta as apostas online entrou em vigor em janeiro de 2025, com 12% de alíquota sobre o faturamento das companhias. Porém, em junho deste ano, o governo federal anunciou que aumentaria a taxação para 18%.
No começo de outubro, o governo recuou sobre a medida. O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), relator da proposta, removeu do texto final o trecho que apresentava a elevação da alíquota de imposto sobre o Gross Gaming Revenue (GGR) das bets.
Bernardo Cavalcanti Freire, consultor jurídico da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) e sócio do Betlaw, escritório de advocacia especializado em bets, alertou sobre os riscos da taxação. "Qualquer aumento da alíquota sobre o GGR poderia gerar a destruição do setor das apostas esportivas no Brasil. Uma taxação desse nível atestaria o completo desconhecimento do tema pela Receita Federal e pelo Ministério da Fazenda, com o estabelecimento de um cenário de absoluta insegurança jurídica, já que as empresas se estabeleceram no país há menos de um ano."
No futebol, o principal esporte do país, 100% dos clubes presentes na Série A do Campeonato Brasileiro contam com patrocínios advindos do ramo de apostas. Em agosto foi anunciado o maior contrato de patrocínio da história do futebol brasileiro, quando a Betano oficializou o acordo com o Flamengo, com cifras que giram em torno de R$ 268 milhões por ano.
Outros grandes clubes do futebol nacional, como Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo, garantiram os maiores acordos de suas histórias a partir de patrocínios com companhias voltadas para apostas esportivas.
Imagem: Raul Baretta/Santos FC"O futebol brasileiro se valorizou ainda mais nos últimos anos, e a exposição no Santos, Fortaleza, Vitória e Mirassol, com características distintas e torcidas apaixonadas, tornou o investimento ainda mais atrativo, fazendo com que o patrocínio, aliado às ativações realizadas, potencializem ainda mais a força das nossas marcas no cenário nacional e internacional", afirma Nickolas Ribeiro, sócio e fundador do Grupo Ana Gaming, que está presente em quatro clubes da Série A do Campeonato Brasileiro Santos, Mirassol e Vitória, com a 7k, e Cassino, com o Fortaleza.
O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, destacou os objetivos convergentes da parceria. "São duas marcas fortes que na essência têm o entretenimento como uma de suas principais metas. A 7K chegou num momento importante e com filosofia de grande crescimento. Essa aposta no Santos é sinônimo de vitória para ambos".
O fenômeno dos acordos comerciais extrapola as fronteiras nacionais. O Milan, segundo clube com mais taças da Champions League, com sete troféus conquistados ao longo da história, também possui parceria com uma empresa de apostas esportivas na América Latina: a Reals.
"Ser parceiro de um clube tão grande como o Milan é motivo de satisfação e orgulho para a Reals. Temos um acordo pioneiro e de relevância internacional com o time italiano, que contribui para a consolidação da nossa empresa como uma referência entre as bets que investem em patrocínios dentro do universo esportivo, comprovando a seriedade e credibilidade do nosso trabalho", conclui Rafael Borges, CEO da Reals, empresa que também é patrocinadora master do Coritiba.