Entidades que representam o mercado regulado de apostas online emitiram nota contestando as afirmações feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em entrevista ao ICL Notícias.
A ANJL manifestou “surpresa” e “consternação” pelas declarações do ministro. “Surpresa porque o setor, que tem sido diligente em atender a todas as normas da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), não esperava ser alvo de um ataque dessa natureza por parte do ministro. E consternação por acreditar no potencial altamente deletério sobre o mercado dessa avaliação do chefe da pasta sob a qual vem sendo construída a regulamentação do setor.”
Na visão da associação, os problemas apontados por Haddad (como lavagem de dinheiro) dizem respeito às casas de apostas ilegais. Sem autorização para funcionar no país e sem recolher impostos, elas continuam operando devido à dificuldade de bloqueio por parte das autoridades.
“Sobre o entendimento manifestado pelo ministro Fernando Haddad de que a ludopatia deve ser tratada como um caso de saúde pública, a associação concorda e já se manifestou nesse sentido diversas vezes. É necessário frisar, contudo, que, hoje, o imposto pago pelas casas de apostas legalizadas já prevê destinação de parte desses recursos para a Saúde”, argumenta a ANJL.
A entidade chama a atenção ainda para o risco de proibir a publicidade do segmento. Para a ANJL, a propaganda, quando feita de forma responsável e esclarecedora, ajuda os apostadores a distinguir as bets legais das ilegais e a não cair em golpes.
Quem também se manifestou sobre as falas de Haddad foi o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR). Em nota compartilhada pelo site Poder360, o IBJR expressou "perplexidade".
A entidade cita que, apenas em outorgas pagas pelas empresas licenciadas, o governo federal já recebeu mais de R$ 2,3 bilhões, além de R$ 3 bilhões em contribuições tributárias e sociais entre janeiro e maio de 2025, de acordo com a Receita Federal.
“A visão do ministro desvia o foco do problema real: a evasão fiscal do mercado ilegal, que domina 51% do setor e gera um prejuízo anual de R$ 10 bilhões ao país. Declarações que diminuem a importância do ambiente regulado criam insegurança jurídica, desestimulam investimentos e, na prática, fortalecem as operações ilegais que o governo deveria combater”, diz um trecho da nota.
“O IBJR reafirma seu compromisso com o Brasil para a construção de um mercado transparente e gerador de empregos e receitas, com maior proteção ao apostador. Para isso, o trabalho conjunto entre o poder público e empresas do setor é imprescindível”, finaliza o instituto.
Como repercutido pelo Yogonet, Haddad, em entrevista publicada pelo ICL Notícias na segunda-feira, 21 de julho, manifestou preocupação em relação ao impacto das bets no Brasil, citando ocorrências como crimes e danos à população. O petista descreveu a situação atual como “muito ruim”.
“Nós já estamos informando o Banco Central das fintechs que estão servindo de veículo possivelmente para o crime organizado, ou para lavagem de dinheiro, ou para coisa pior. Então tem muitas coisas a serem vistas. Nós vamos incorporar a Polícia Federal nesse debate porque não é só atribuição do Ministério da Fazenda, tem crime por trás, e eu penso que agora nós temos um quadro para mostrar ao país, nós podemos estampar para o país, nós temos um problema, olha o tamanho do problema que foi criado”, afirmou Haddad, sem deixar claro se estava se referindo a operadores legais ou ilegais.
Haddad afirmou que, quando chegou ao Ministério da Fazenda, encontrou uma “epidemia posta” e foi feito um esforço para informatizar os dados sobre as casas de apostas.
“O que nós vamos fazer agora? Passados os seis meses, que o Estado finalmente se apropriou das informações, nós vamos levar para a mesa do presidente [Lula] os dados e tratar isso como um problema de saúde pública sério. Um problema sério! Então nós vamos ter que ver, primeiro, a publicidade disso”, disse.
“Se fosse aparecer um projeto na Câmara Federal, continua ou para [a atuação das bets], eu apertava o botão do para. Não tem arrecadação que justifique essa roubada que nós chegamos. É muito ruim o que está acontecendo”, finalizou Haddad.
A íntegra da entrevista do ministro ao ICL Notícias pode ser vista abaixo (o trecho referente às bets começa a partir dos 28 minutos e 16 segundos):