Em entrevista ao ICL Notícias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), manifestou preocupação em relação ao impacto das bets no Brasil, citando ocorrências como crimes e danos à população. O petista descreveu a situação atual como “muito ruim”.
“Nós já estamos informando o Banco Central das fintechs que estão servindo de veículo possivelmente para o crime organizado, ou para lavagem de dinheiro, ou para coisa pior. Então tem muitas coisas a serem vistas. Nós vamos incorporar a Polícia Federal nesse debate porque não é só atribuição do Ministério da Fazenda, tem crime por trás, e eu penso que agora nós temos um quadro para mostrar ao país, nós podemos estampar para o país, nós temos um problema, olha o tamanho do problema que foi criado”, afirmou Haddad, sem deixar claro se estava se referindo a operadores legais ou ilegais.
O ministro voltou a criticar o fato de não ter havido regulamentação das bets pela gestão passada, dizendo que o setor operou mais de quatro anos sem recolher impostos e sem regras específicas para a publicidade. Imagem: reprodução/ICL
Haddad afirmou que, quando chegou ao Ministério da Fazenda, encontrou uma “epidemia posta” e foi feito um esforço para informatizar os dados sobre as casas de apostas.
“O que nós vamos fazer agora? Passados os seis meses, que o Estado finalmente se apropriou das informações, nós vamos levar para a mesa do presidente [Lula] os dados e tratar isso como um problema de saúde pública sério. Um problema sério! Então nós vamos ter que ver, primeiro, a publicidade disso”, disse.
“Se fosse aparecer um projeto na Câmara Federal, continua ou para [a atuação das bets], eu apertava o botão do para. Não tem arrecadação que justifique essa roubada que nós chegamos. É muito ruim o que está acontecendo”, finalizou Haddad.
A íntegra da entrevista do ministro ao ICL Notícias pode ser vista abaixo - o trecho referente às bets começa a partir dos 28 minutos e 16 segundos:
Em posicionamentos anteriores às declarações de Haddad, entidades representativas do setor, como a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) e o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), frequentemente rechaçavam rótulos negativos sobre o mercado regulado e destacavam o potencial de geração de empregos e arrecadação.
A ANJL, por exemplo, projeta que o setor de apostas regulado tem potencial para gerar, nos próximos cinco anos, cerca de 60 mil novos postos formais de trabalho. Já a arrecadação tributária nacional é estimada em mais de R$ 4 bilhões anuais.
Em junho, em entrevista exclusiva ao Yogonet, o presidente da ANJL, Plínio Lemos Jorge, disse que a regulamentação possibilitou "um avanço na percepção da sociedade de que as bets envolvem uma atividade econômica como qualquer outra".
"Além disso, nossa abordagem publicitária é pautada na conscientização, reforçando que as apostas devem ser encaradas como uma forma de entretenimento, e não como um investimento. É importante lembrar que este é um mercado relativamente novo no Brasil. Com o tempo e uma maior compreensão das regras, a tendência é que a atividade deixe de ser vista como algo que somente proporciona vício ou prejuízos", disse, na época.
Por outro lado, o presidente da ANJL chamou a atenção para os riscos trazidos por operadores ilegais. Isto é, casas de apostas que não adquiriram a licença federal ou nos estados, atuando sem recolher impostos, sem seguir políticas de jogo responsável e sem fiscalização.
"A indústria clandestina de apostas representa um risco para a imagem do setor, por isso é tão importante combatê-la. Como não seguem regras e legislações, os sites ilegais provocam prejuízos para o apostador e para os operadores licenciados, além de incentivar o jogo para o público infantojuvenil, o que é proibido", disse Jorge, fazendo a diferenciação entre quem atua legalmente e ilegalmente.
A mesma preocupação foi compartilhada por Fernando Vieira, presidente-executivo do IBJR, também em entrevista exclusiva ao Yogonet, no começo de julho. "Outros pontos de vulnerabilidades explorados por esses operadores ilegais são os sistemas de pagamento. É fundamental bloquear o fluxo financeiro dessas transações, sendo uma das formas mais eficazes de estrangular o mercado ilegal", defendeu.
"Fiscalizar e monitorar os meios de pagamento não só dificulta a operação dessas plataformas, como também é um passo decisivo para proteger os apostadores e garantir um ambiente de apostas mais seguro e regulado no país", acrescentou na entrevista.