Mais da metade do mercado nacional de apostas online opera na ilegalidade, provocando prejuízos bilionários aos cofres públicos e expondo consumidores a riscos. É o que mostra o estudo inédito “Fora do Radar: Dimensionamento e impactos socioeconômicos do mercado ilegal de apostas no Brasil”, elaborado pela LCA Consultores em parceria com o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) e Instituto Locomotiva.
Segundo o levantamento, entre 41% e 51% das apostas feitas no Brasil ocorrem em plataformas não regulamentadas. Essa atuação ilegal provocou, apenas no segundo trimestre do ano, uma perda fiscal (ou seja, valor que o governo deixou de arrecadar) estimada entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,7 bilhões. Em 12 meses, o rombo pode atingir R$ 10,8 bilhões.
O valor seria suficiente para pagar o salário anual de até 184 mil professores da educação básica ou construir 41 mil unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.
“Os números são estarrecedores e demonstram a urgência de um combate efetivo ao mercado ilegal. Paradoxalmente, apenas cinco meses após ter pactuado as condições de operação no mercado com os operadores, o governo presenteia as ilegais com um aumento de carga tributária para os regulamentados. Isso traz uma quebra de confiança e enorme insegurança jurídica para o setor e para o Brasil", afirma Fernando Vieira, presidente executivo do IBJR.
"Todos acabam perdendo – os operadores mais sufocados com impostos, o apostador sem a proteção das regras do mercado formal e o governo que, com esse estímulo à ilegalidade, acabará prejudicando não só o mercado, mas também a própria arrecadação”, inclui Vieira.
A regulamentação do setor estabelece que apenas operadoras licenciadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) podem atuar legalmente, cumprindo regras fiscais, operacionais e de proteção ao consumidor. No entanto, 61% dos apostadores ouvidos admitiram ter utilizado plataformas ilegais em 2025 — muitas vezes sem saber que eram irregulares.
“Após criada e implementada uma moderna regulamentação no Brasil, o desafio agora é um combate bem articulado e intensivo do mercado ilegal. A redução do mercado ilegal traz uma série de benefícios à sociedade brasileira, desde proteção aos apostadores e combate ao crime organizado, passando pelo aumento da arrecadação do Governo, fundamental nesse momento de crise fiscal", destaca Eric Brasil, diretor de Regulação e Políticas Públicas da LCA Consultores.
A pesquisa do Instituto Locomotiva, realizada entre abril e maio de 2025 com 2 mil adultos, revelou o alto grau de desinformação entre os consumidores. Os dados mostram que:
78% consideram difícil diferenciar sites legais de ilegais;
72% dizem que nem sempre conseguem verificar a legalidade da plataforma;
46% já apostaram em sites depois identificados como falsos ou irregulares;
73% afirmaram ter utilizado ao menos uma plataforma ilegal neste ano.
A presença das apostas ilegais é ainda mais acentuada entre pessoas com menor renda e escolaridade, justamente as mais vulneráveis e com menos acesso a mecanismos de proteção oferecidos por plataformas licenciadas, como limites de perda financeira, reconhecimento facial e controle de tempo de jogo.
As estratégias dos operadores ilegais incluem nomes semelhantes aos de marcas regulamentadas, domínios instáveis e publicidade com influenciadores que prometem ganhos fáceis, mesmo sem qualquer base real.
“A confusão do consumidor é explorada por esses operadores ilegais. Por isso, é fundamental realizar campanhas educativas, reforçar a comunicação clara sobre os riscos e garantir que os órgãos reguladores atuem com firmeza na fiscalização e na punição exemplar dos infratores”, alerta Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Apesar de ações já tomadas, como o bloqueio de mais de 12 mil domínios irregulares, o mercado ilegal segue ativo, muitas vezes hospedado em servidores internacionais e com pouca ou nenhuma supervisão.
A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), do Ministério da Fazenda, estabeleceu regras claras para as plataformas autorizadas. Entre os critérios para saber se o site é seguro, destacam-se:
Devem obrigatoriamente usar o domínio “.bet.br”;
Exigem cadastro com reconhecimento facial e verificação documental;
Oferecem limites de tempo de jogo e perdas financeiras;
Permitem transações apenas via Pix e débito da conta do titular, excluindo cartões de crédito e criptomoedas;
Contam com mecanismos de autoexclusão para controle do vício em jogo.
A lista de bets autorizadas pela SPA está disponível neste link.