CENÁRIO GLOBAL DAS BETS

Sites ilegais dominam 55% das apostas online no Brasil

22-12-2025
Tempo de leitura 2:57 min

Sites ilegais já dominam 55% do mercado de apostas online no Brasil, mesmo após a entrada em vigor da regulamentação do setor, em janeiro de 2025. Levantamento da VEJA Negócios, repercutido no BNLData, mostra que, apesar do alto custo para operar legalmente, que pode ultrapassar R$ 100 milhões entre licenças, garantias, estrutura e medidas de proteção ao jogador, o mercado clandestino segue crescendo e pressionando as plataformas autorizadas.

A comparação internacional ajuda a dimensionar o tamanho do desafio brasileiro. Segundo levantamento citado pela VEJA Negócios, o Brasil tem hoje 55% do mercado de apostas online nas mãos de operadores ilegais, percentual inferior ao observado em países como Estados Unidos (74%), Argentina (92%) e à média global (69%), mas muito distante de mercados mais maduros.

No Reino Unido, referência em regulação, apenas 9% das apostas ocorrem fora do ambiente legal, enquanto nas Filipinas, após ações coordenadas de combate, o mercado ilegal foi reduzido para 46%.

Os dados indicam que o avanço da regulação, por si só, não é suficiente e que resultados mais consistentes dependem de fiscalização contínua, inteligência e bloqueio efetivo dos meios de pagamento.

Hoje,no Brasil, 97 empresas licenciadas, responsáveis por 167 marcas, disputam um mercado que movimentou mais de R$ 35 bilhões em receita bruta apenas no primeiro semestre de 2025. Ainda assim, a vantagem inicial do setor regulado foi rapidamente revertida. Após atingir 55% de participação entre janeiro e março, as bets legais recuaram para 45% no segundo trimestre, enquanto operadores ilegais se adaptaram às novas regras.

“A regulamentação foi muito bem-feita e as bets legais dominaram o mercado muito rapidamente”, afirmou André Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável. “Mas as ilegais se adaptaram na mesma velocidade e estão crescendo sem um combate realmente efetivo.”

Sem pagar impostos ou cumprir exigências regulatórias, sites clandestinos oferecem odds mais altas, bônus proibidos e acesso facilitado, ignorando mecanismos como verificação de idade, identificação facial e controles contra lavagem de dinheiro. Além disso, produzem cerca de 22 mil conteúdos promocionais por dia, focados principalmente em jovens, usando influenciadores e aplicativos de mensagens criptografadas.

Os riscos recaem diretamente sobre o apostador: menores de idade apostam livremente, jogadores compulsivos não encontram barreiras e há casos frequentes de não pagamento de prêmios. Pesquisa do Instituto Locomotiva indica que 61% dos apostadores brasileiros já utilizaram plataformas ilegais, enquanto 72% dizem não conseguir diferenciar sites legais dos clandestinos.

Atualmente, 2.316 operadores ilegais já foram identificados no país, contra apenas 167 licenciados, uma proporção de quase 14 para 1. “Todas as acusações que se fazem a respeito das bets — de que não pagam imposto, ludibriam os apostadores, exploram a ludopatia — só acontecem no mercado ilegal”, afirma Guilherme Figueiredo, diretor comercial da Betano. “Mas a má reputação vai para toda a indústria.”

O combate ao mercado ilegal ainda enfrenta limitações estruturais. A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), do Ministério da Fazenda, conta com equipe reduzida e atua principalmente por meio do bloqueio de sites via Anatel — medida considerada insuficiente, já que novos domínios surgem rapidamente. A estratégia mais eficaz, segundo especialistas, passa por interromper os meios de pagamento, especialmente via Pix.

“É natural que os órgãos fiscalizadores passem por uma curva de aprendizado para combater organizações criminosas que já fazem isso há muito tempo, mas precisamos acelerar e intensificar esse movimento porque o prejuízo para a sociedade está cada dia maior”, diz Plínio Lemos Jorge, presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL).

Inspirado em modelos internacionais, como o das Filipinas — que reduziram o mercado ilegal de 93% para 46% com ações integradas —, o Brasil aposta agora em inteligência e tecnologia.

A ANJL desenvolveu, em parceria com a EtherCity, um software capaz de rastrear bets ilegais e identificar contas usadas para receber apostas, permitindo bloqueios coordenados com o Banco Central. A ferramenta deve entrar em operação em escala no primeiro trimestre de 2026.

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