ENTREVISTA COM O DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO ESPORTES GAMING BRASIL

Hugo Baungartner: “Mercado regulado ganhou escala e visibilidade em pouco tempo, superando receios iniciais”

Imagem: divulgação/Esportes Gaming Brasil
02-10-2025
Tempo de leitura 4:59 min

O Brasil entrou em 2025 com o desafio de consolidar o mercado regulado de apostas online, equilibrando arrecadação, proteção ao apostador e o combate ao jogo ilegal.

Meses depois, qual a percepção que os operadores têm da indústria no país? Para entender melhor o cenário, o Yogonet conversou com Hugo Baungartner, diretor de relações institucionais do Esportes Gaming Brasil, grupo que detém as marcas Esportes da Sorte, Onabet e Lottu.

Com uma experiência de cerca de 28 anos no setor de jogos, Baungartner avalia que “o Brasil tem avançado de forma coerente na construção de um mercado regulado”. Ele, no entanto, faz a ressalva de que o processo ainda não está concluído e existem obstáculos como a atuação de casas de apostas ilegais e a necessidade de uma migração mais eficaz de apostadores para o ambiente regulado.

O executivo menciona também que "as regras fiscais e tributárias ainda carecem de maior estabilidade". 

Confira:

O mercado regulado de apostas online já completou nove meses. Qual o balanço que você faz desse período? Acredita que o Brasil tem caminhado bem na construção de um mercado sustentável?

Em nove meses do mercado regulado, já é possível fazer um balanço mais fundamentado, com base em dados concretos. De acordo com a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), 17,7 milhões de brasileiros realizaram apostas nas plataformas autorizadas entre janeiro e junho, e a Anatel já removeu mais de 15 mil páginas ilegais desde outubro de 2024.

Além disso, o Gross Gaming Revenue (GGR) das casas autorizadas atingiu R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre, o que representa uma média de R$ 983 por apostador no período — cerca de R$ 164 por mês.

Esses números mostram que o mercado regulado ganhou escala e visibilidade em pouco tempo, superando receios iniciais sobre sua viabilidade.

Houve avanços importantes, como a formalização de operadores, a redução de ilegalidades e a produção de dados transparentes que ajudam a embasar o debate regulatório. Ainda assim, persistem desafios que precisam ser enfrentados para garantir a sustentabilidade do setor.

O combate à ilegalidade precisa ganhar mais ritmo, as regras fiscais e tributárias ainda carecem de maior estabilidade, e é fundamental incentivar de forma mais eficaz a migração de apostadores do mercado paralelo para o legal.

Em resumo, o Brasil tem avançado de forma coerente na construção de um mercado regulado. O processo ainda não está concluído, nem é isento de falhas, mas as bases que estão sendo construídas apontam para um ambiente mais sólido e sustentável. 

Hugo Baungartner, à direita (imagem: divulgação/Esportes Gaming Brasil)

Uma queixa recorrente é a concorrência desleal das plataformas ilegais, ou seja, sites que atuam sem ter adquirido a licença e sem seguir regras de proteção ao apostador, por exemplo. Quais ações você acredita que poderiam ser tomadas para um combate mais efetivo aos operadores clandestinos?

A presença de operadores ilegais ainda é um obstáculo para o setor, pois afetam a arrecadação, expõem o usuário a riscos e criam concorrência desleal. O combate a essas práticas precisa ser firme, por meio do bloqueio técnico de sites e espelhos — iniciativa que começou a ser endereçada com a criação de um laboratório cibernético dedicado, fruto de um acordo entre Anatel, Ministério da Fazenda e Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL).

Além disso, é fundamental interromper os fluxos financeiros desses operadores, com a integração entre reguladores, bancos e meios de pagamento. Outro ponto importante são as campanhas de conscientização, para que o consumidor reconheça e valorize quem está licenciado pela SPA.

Embora o poder público tenha avançado, intensificar a fiscalização e oferecer previsibilidade regulatória continua sendo essencial para proteger quem aposta e para manter o mercado saudável.

O setor está diante de um possível aumento de impostos, de 12% para 18% do GGR (falta ainda a aprovação no Congresso). Caso isso se concretize, qual você acha que será o impacto no mercado?

A possível elevação da alíquota de 12% para 18% do GGR vem em um momento delicado. O setor ainda está se consolidando, ajustando questões de compliance, entendendo as novas regras e, principalmente, tentando atrair o consumidor para o canal regulado.

Um aumento de carga agora pode apertar as margens das empresas e, com isso, diminuir a atração por novos investimentos no país. O mais importante aqui é garantir previsibilidade. O mercado precisa de regras claras e estáveis para conseguir planejar a médio e longo prazo.

Claro que arrecadação é fundamental — e o Brasil já mostrou que esse mercado tem potencial para gerar bilhões — mas se a tributação pesar demais, o risco é desestimular quem quer operar dentro da lei e, pior, dar espaço de novo para os operadores ilegais.

Então, é um equilíbrio. É possível ajustar a carga, sim, mas com cuidado e no tempo certo, para não travar um mercado que ainda está em construção.

Ativação do Esportes da Sorte na festa de São João (imagem: divulgação/Esportes Gaming Brasil)

Como você vê o posicionamento do Esportes da Sorte hoje no mercado? Quais os diferenciais da marca que você destacaria?

O Esportes da Sorte hoje está bem consolidado como um dos players autorizados pela SPA e com uma presença forte no cenário nacional. A gente tem alguns diferenciais que considero bem marcantes.

Primeiro, a questão da integridade e do jogo responsável. Fomos uma das primeiras casas a adotar o Bettor Sense, da Sportradar, que é uma ferramenta de inteligência artificial que ajuda a identificar sinais de risco em apostadores, de forma preventiva.

Além disso, temos promovido workshops de integridade com clubes como Corinthians, Ceará e Náutico, incluindo também times femininos e categorias de base, o que é muito importante para prevenir manipulação de resultados desde cedo.

Outro ponto é o nosso compromisso com a cultura e com as regiões do país. A gente investe de forma consistente em manifestações populares como o Carnaval, o São João e o Festival de Parintins. Isso não só movimenta as economias locais, mas também ajuda a valorizar tradições brasileiras que fazem parte da nossa identidade.

E, por fim, temos um foco muito claro em governança e transparência. Atuamos sempre em linha com as exigências da SPA, investindo em compliance e tecnologia, o que reforça não só a nossa credibilidade, mas também a do mercado regulado como um todo.

No fim das contas, não queremos ser só uma plataforma de apostas. A ideia é ser um parceiro do esporte, da cultura e da sociedade, contribuindo ativamente para construção de um mercado mais sólido e responsável

Agora uma pergunta mais pessoal: segundo o seu LinkedIn, você já foi professor de sommelier e empreendeu também no ramo gastronômico. Como foi essa transição para o setor de jogos? O que você mais gosta nessa indústria?

Na verdade, nunca foi uma transição e, sim, projetos paralelos. A enofilia e a gastronomia são duas paixões que cultivo até hoje. Durante sete anos consegui conciliar, mas, em 2010, com a mudança da família para o México, tive de vender os empreendimentos e deixar de lecionar.

A indústria de jogos é muita dinâmica. Cada canal, online e land-based, tem suas especificidades. Entender o mercado de cada país e poder contribuir com cada um deles é o que mais gosto na indústria.

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