Passados quase sete meses após o início do mercado regulado, as casas de apostas, demais empresas do setor e influenciadores têm consolidado novas políticas de jogo responsável.
Em geral, as bets criam ferramentas para monitorar as ações e o comportamento dos usuários nas plataformas e, dessa forma, identificar potenciais apostadores compulsivos.
Além disso, também fornecem opções para que o seu público possa estabelecer limites de depósito e de tempo destinados aos jogos e perdas. Também são emitidos alertas com orientações aos jogadores e há a possibilidade de que o usuário realize a autoexclusão do site.
As plataformas ainda podem restringir ou até suspender o acesso de jogadores considerados em situação de risco quando necessário, entre outras medidas.
Dentro da indústria, existem empresas que buscam desenvolver soluções para garantir a prevenção ao vício, incluindo desde programas psicoeducativos ao monitoramento e suporte ao apostador. Um exemplo de instituição especializada que fornece tais serviços para as bets é a Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo (EBAC). A companhia desenvolveu o programa COMPULSAFE, na busca por dar suporte emocional aos usuários compulsivos.
No programa, os apostadores passam por análises de profissionais da EBAC junto às bets parceiras. Após um período de diagnósticos, é criado um plano de ação personalizado para cada pessoa, executado pelas plataformas e com suporte dos profissionais da EBAC.
O acolhimento, que se inicia com procedimentos de apoio psicológico ao apostador, também se estende até a triagem e encaminhamento para participação em um programa psicoeducativo, com até oito semanas de duração, sendo realizado diretamente ao apostador, de forma gratuita. No programa, destacam-se temas como a compreensão da compulsão, como ela afeta as vidas das pessoas e como elas podem superá-la.
"Nosso programa possui sistemas de detecção, emite sinais de alerta e orientação para os apostadores com potencial de transtorno ao jogo. Quando detectado algo, é feito um acolhimento e é garantida toda a atenção necessária e orientação para que seja dada continuidade do processo pelo usuário”, explica Ricardo Magri, especialista em desenvolvimento de negócios iGaming e diretor executivo (CEO) da EBAC.
Entre as bets que já aderiram ao programa estão o Grupo NSX (Betnacional e Mr. Jack.bet), o Grupo Esportes da Sorte (Esportes da Sorte e Onabet), o Grupo Ana Gaming (7k, Cassino e Vera), além da Casa de Apostas, Betsul e HiperBet.
Conforme determinou a regulamentação, é necessário que as casas de apostas conheçam a fundo o perfil dos apostadores para que, ao menor sinal de risco, possam restringir o acesso do jogador à plataforma caso necessário.
A Paag, techfin que atua como hub de soluções tecnológicas no mercado de apostas, desenvolveu uma ferramenta capaz de observar as atividades dos jogadores dentro da plataforma ao identificar sinais de possível vício e comunicar o ocorrido às casas de apostas.
“A identificação de padrões de comportamento de risco não pode ser deixada para depois e é parte essencial de um mercado saudável. Nossas soluções no Paag Shield foram desenvolvidas para apoiar as casas de apostas nessa responsabilidade, fornecendo tecnologia que observa o comportamento do jogador e sinaliza possíveis excessos. Acreditamos que um mercado sustentável só é possível quando todos os envolvidos se comprometem com a integridade da operação e é por isso que seguimos investindo em ferramentas que reforcem esse compromisso”, destaca João Fraga, CEO da Paag.
Entre as principais plataformas de apostas do Brasil, a prevenção à ludopatia é tema constante. No Grupo Ana Gaming, que controla a 7k, Cassino e Vera, além da adesão ao programa COMPULSAFE, também há uma abordagem proativa, envolvendo tecnologia, transparência e apoio ao jogador, assim como a possibilidade de controle do próprio apostador. Ferramentas tecnológicas analisam padrões de apostas em tempo real, identificando jogadores que demonstram sinais de comportamento compulsivo.
Quando detectado um risco, a plataforma emite alertas, com orientações ao apostador e possibilidade de restrições como o autoteste e a autoexclusão.
Em casos extremos, considerados em situação de risco, o jogador pode ter o acesso suspenso ou até mesmo restringido. “Temos como iniciativa o monitoramento constante de comportamento de jogo, através da análise de perfis e padrões de apostas para identificar jogadores em grupos de riscos ou com comportamento potencialmente compulsivo e apresentar opções de tratamento”, afirma Tagiane Gomide Guimaraes, diretora jurídica e de integridade da Ana Gaming.
A plataforma Casa de Apostas também conta com um sistema avançado para identificar jogadores sujeitos a desenvolver transtornos relacionados às apostas. Com o programa COMPULSAFE, da EBAC, a empresa destaca a importância em oferecer orientação e disponibilizar profissionais de suporte para elaborar planos de ação personalizados, promovendo práticas de jogo responsável.
Anderson Nunes
"Desde o princípio, nossa prioridade tem sido garantir a segurança, o bem-estar e a melhor experiência possível para os apostadores. Apoiamos a regulamentação do setor e nos dedicamos a desenvolver soluções eficazes para gerenciar casos mais graves. Na Casa de Apostas, consideramos fundamental combater o vício e promover a mensagem de que as apostas devem ser encaradas apenas como uma forma de entretenimento. Apostar é apenas diversão, não é investimento. Trabalhamos ativamente para manter essa perspectiva", explica Anderson Nunes, head de negócios da Casa de Apostas.
Outra das principais plataformas de apostas do Brasil que também apresenta iniciativas de destaque em prol do jogo responsável é a Galerabet, que adota variadas ações nesse sentido.
Entre as principais, além de medidas como protocolos avançados de segurança, incluindo validações de documentos e monitoramento de atividades suspeitas e verificação minuciosa para garantir autenticidade, também são empregadas tecnologias de geolocalização, para confirmar que os jogadores estão em locais onde as apostas são permitidas, além de prevenir acessos suspeitos ou indevidos.
Com monitoramento ativo em tempo real da plataforma, são analisados padrões de comportamento a partir de uma tecnologia de inteligência artificial para identificar possíveis sinais de jogo compulsivo. Se um comportamento suspeito for detectado, ações de contato com o jogador são tomadas para garantir que este esteja tomando decisões seguras e priorizando o jogo responsável.
Igor Sá
A HiperBet, por sua vez, destaca a parceria com a EBAC como forma de otimizar a prevenção à ludopatia. “Temos um trabalho na plataforma no sentido da conscientização em torno do jogo responsável e de ações efetivas que possibilitam não somente tratar possíveis sintomas do jogo compulsivo como também manter um programa sólido de prevenção. A responsabilidade faz parte do DNA da HiperBet desde a concepção da empresa e sempre buscamos impulsionar a prática ao máximo”, pontua Igor Sá, CMO/COO da HiperBet.
Já na Luckbet, empresa brasileira de apostas online, um dos principais destaques é o investimento em tecnologia para identificar padrões de comportamento que possam indicar jogo compulsivo, possibilitando ações preventivas. O programa de jogo responsável da empresa está baseado em três pilares: prevenção, identificação e suporte.
Iuri Dutra (foto: divulgação)
“Desde o momento do cadastro, o usuário tem acesso a informações e ferramentas que auxiliam no controle do jogo. Para a identificação, é utilizada tecnologia a fim de analisar o comportamento dos jogadores e, caso necessário, oferecer alertas e sugestões de autorregulação. Também são criados canais diretos para que os usuários possam buscar ajuda quando precisarem, além de indicarmos instituições especializadas para apoio externo”, explica Iuri Dutra, sócio-diretor da Luckbet.
Em meio à expansão acelerada do mercado de apostas no Brasil, vozes que defendem práticas responsáveis ganham cada vez mais relevância. Um dos nomes desse movimento é Daniel Fortune, influenciador digital que aborda os riscos do jogo compulsivo com uma linguagem acessível e voltada ao público jovem. Com uma base engajada nas redes sociais, ele atua na conscientização sobre os limites do hábito de apostar e os impactos negativos que o vício pode causar.
Daniel Fortune (foto: divulgação)
“O mercado de apostas já é uma realidade consolidada no Brasil. Com esse avanço das apostas online, torna-se ainda mais urgente promover uma cultura de educação, consciência e apoio ao jogador. Incentivar o jogo responsável é fundamental para garantir a confiança do público, oferecer segurança a quem aposta e construir um ambiente mais saudável e sustentável para todos os envolvidos”, comenta Daniel Fortune.
O influenciador é o primeiro do setor a fechar parceria com a EBAC para fortalecer a divulgação de conteúdos com foco em prevenção e apoio a quem enfrenta a ludopatia. Além disso, Fortune anunciou recentemente um acordo com a advogada e vice-presidente da Comissão de Apostas da OAB-SP, Beatriz Gimenez Costa, e com a Faz1Bet para promoção do jogo responsável no país.
Além da responsabilidade social, o combate ao vício em jogos é benéfico para todos os envolvidos no setor de maneira geral, desde os jogadores às empresas. É o que destaca a diretora jurídica e de integridade da Ana Gaming, Tagiane Gomide Guimaraes.
“Além do compromisso ético e social, as práticas de combate ao vício contribuem diretamente para a longevidade e estabilidade do setor de apostas”, pontua.
“A adoção de políticas e iniciativas eficazes de combate ao vício em jogos traz benefícios tanto para os jogadores quanto para as próprias operadoras, pois, primeiramente, zela pela saúde do jogador e garante entretenimento saudável, além de assegurar a reputação e credibilidade das empresas do setor e a sustentabilidade do negócio, bem como cumprimento da legislação, reduzindo riscos legais e financeiros para as empresas”, complementa a executiva.
Já na Galerabet, o entendimento é que o mercado de apostas, como um todo, se fortalece quando há um compromisso genuíno com o jogo responsável. Nesse sentido, a empresa destaca que os jogadores que mantêm um comportamento saudável tendem a ter uma experiência mais satisfatória e duradoura na plataforma. O objetivo é garantir que o jogo seja visto como entretenimento, e não como uma atividade prejudicial, contribuindo para a fidelização dos usuários e para a sustentabilidade do negócio a longo prazo.