LEVANTAMENTO DA DEUTSCHE WELLE

Brasil lidera ranking de exposição publicitária a apostas em campeonatos de futebol

23-06-2025
Tempo de leitura 2:29 min

O futebol brasileiro virou vitrine dominante para casas de apostas online, com a publicidade do setor tomando conta dos estádios e impactando diretamente tanto o comportamento dos torcedores quanto a saúde financeira dos clubes.

Dados exclusivos apurados pela Deutsche Welle (DW), emissora internacional da Alemanha, mostram que o Brasil lidera o ranking mundial de exposição publicitária a apostas em campeonatos de futebol, com uma proporção de sete em cada dez placas nos estádios exibindo marcas do setor na rodada final do Brasileirão de 2024.

É o dobro da média das principais ligas europeias, como a Premier League e a Série A italiana.

A investigação foi feita pela equipe de dados da DW, que analisou imagens de jogos entre 2019 e 2024 com uso de inteligência artificial para identificar e classificar os anúncios veiculados nas partidas.

Os responsáveis pelo levantamento destacam que a legalização das apostas online ocorreu em 2018, mas as ações de controle e prevenção só começaram a ser desenhadas recentemente, quando os impactos sociais se tornaram mais visíveis.

Estudos mostram gastos de bilhões com apostas

Um dado divulgado pelo Banco Central (BC) mostra que, apenas em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas online, o que representa 20% do total pago pelo programa naquele mês. Na época da divulgação do dado, a metodologia usada para chegar foi questionada pelo setor. Posteriormente, o BC admitiu que o relatório não estava imune a falhas.

Além disso, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo revelou que 6% da população brasileira aposta em sites de apostas esportivas, o que equivale a cerca de 9 milhões de pessoas. Dessas, 67% apresentam comportamentos de risco, como apostar mais do que podem perder, mesmo que não tenham diagnóstico formal de dependência, disse o estudo alemão. 

Futebol e apostas

A pesquisa também revelou que as apostas esportivas, impulsionadas pelo futebol, são hoje a segunda forma mais popular de jogo no Brasil, atrás apenas das loterias.

Essa relação entre o esporte e o setor de apostas é tão intensa que todos os 20 clubes da Série A exibem pelo menos um patrocinador de apostas em seus uniformes.

Quando o Congresso propôs uma restrição à publicidade de apostas em maio de 2025, mais de 50 clubes assinaram uma carta conjunta alertando para os riscos econômicos da medida. "Tais limitações, se não forem ajustadas, resultarão no colapso financeiro de todo o ecossistema esportivo — especialmente o futebol brasileiro", dizia o documento, que também reconhecia a necessidade de maior regulação.

Outros países avançam com restrições

Em contrapartida, países como Espanha e Reino Unido já começaram a limitar fortemente a presença da indústria de apostas no esporte. A Espanha proibiu anúncios em horário nobre e patrocínios em clubes, enquanto a Premier League determinou o fim das logos de casas de apostas nas camisas a partir da temporada 2026-27.

Para especialistas como o psicólogo britânico Jamie Torrance, da Swansea University, a publicidade constante das casas de apostas age diretamente sobre o comportamento do consumidor.

Ao associar essas marcas a um jogo que as pessoas amam e com o qual têm vínculos emocionais, cria-se uma espécie de condicionamento clássico”, explicou à DW.

As empresas querem que o torcedor sinta pelo seu aplicativo o mesmo apego que sente pelo clube.

Deixe um comentário
Assine nosso boletim
Digite seu e-mail para receber as últimas novidades
Ao inserir seu endereço de e-mail, você concorda com os Condiciones de uso e a Políticas de Privacidade da Yogonet. Você entende que a Yogonet poderá usar seu endereço para enviar atualizações e e-mails de marketing. Use o link de Cancelar inscrição nesses e-mails para cancelar a inscrição a qualquer momento.
Cancelar inscrição