Dados publicados pelo Intercept Brasil e pelo Correio Braziliense apontam que 276 benefícios de auxílio-doença por ludopatia (vício em apostas) foram concedidos pelo INSS entre junho de 2023 e abril de 2025, um aumento de 2.300%. O período de aumento bate com o início da regulamentação do mercado, que começou a ser feita a partir da lei 14.790, de dezembro de 2023.
São Paulo lidera o ranking nacional com 95 benefícios concedidos, seguido por Minas Gerais (39 casos), Bahia (18), Rio Grande do Sul (17), Rio de Janeiro e Santa Catarina (16 cada). O levantamento revela um perfil predominante entre os beneficiários: 73% são homens na faixa etária de 18 a 39 anos. Todos estavam formalmente empregados quando solicitaram o afastamento para tratamento.
Segundo dados obtidos pelo Intercept pela Lei de Acesso à Informação, entre 2015 e 2022, a média anual não passou de 11 benefícios — em 2015, por exemplo, foram apenas dois casos no Brasil inteiro, e no ano seguinte, cinco. Segundo o site, a alta começou a ser observada em 2023 e, a partir do segundo semestre de 2024, os registros passaram a atingir com frequência a casa das duas dezenas por mês.
SUS
O aumento dos casos também se reflete no Sistema Único de Saúde (SUS). Os atendimentos relacionados à ludopatia no SUS passaram de 65 em 2019 para 1.292 em 2024.
Em junho, um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que o Ministério da Saúde falha na prevenção e no tratamento do vício em apostas online. A análise identificou problemas como falta de articulação entre áreas responsáveis, ausência de indicadores específicos e escassez de campanhas de conscientização.
O estudo do TCU destaca que, embora o tratamento para ludopatia esteja inserido na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS), o serviço é insuficiente.
"Faltam profissionais especializados e até mesmo espaço físico adequado para o tratamento", disse o relatório, destacando ainda uma pesquisa da organização ImpulsoGov. Feita com 2.000 profissionais da saúde pública, ela mostrou que 55,2% dos entrevistados não se sentem preparados para atender pacientes com vício em apostas.
Alarmismo
Ao avaliar os números, o editor do BNLData e presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, Magnho José, opina que "embora o problema exista e mereça atenção, os números mostram uma realidade menos alarmante do que alguns veículos de mídia com linha editorial contrária ao jogo sugerem".
Ele afirma que o percentual de pessoas que apresentaram transtornos do jogo e que recorreram ao sistema público "é de apenas 0,0073%", já que o universo de apostadores no Brasil é de 17,7 milhões de pessoas, conforme divulgado pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda.
"A literatura global aponta que a prevalência de transtorno do jogo varia de 1% a 3%. No Reino Unido, mercado considerado maduro, a estimativa da Gambling Commission é de 2,5% de jogadores problemáticos, com outros 3,7% apresentando comportamento de risco moderado. Essas estatísticas, no entanto, podem levar a conclusões enganosas, pois consideram toda a população adulta, mesmo quem não joga", finaliza.