A evolução das loterias estaduais foi um dos temas abordados na agenda de conferências do BiS SiGMA Americas, realizado entre 7 e 10 de abril, em São Paulo (SP). O diretor-presidente da Loterias do Estado do Paraná (Lottopar), Daniel Romanowski, esteve presente no evento e conversou com exclusividade com o Yogonet.
“Estamos muito orgulhosos do projeto da Lottopar, confiantes. Na verdade, o que estamos oferecendo? Um ótimo produto para a população, confiável, e que pode ser utilizado sem preocupações. É um jogo seguro, que já passou por testes”, comentou Romanowski.
A autarquia iniciou suas operações em 2022 e promoveu uma regulamentação das apostas de quota fixa em nível estadual. Segundo o contador disponível no site oficial da Lottopar, já foram arrecadados mais de R$ 55,9 milhões em pagamento de royalties, outorgas fixas e variáveis. A arrecadação obtida com o setor é destinada às áreas de habitação popular, segurança pública e ações sociais no Paraná.
Na entrevista com o Yogonet, Romanowski comentou ainda outros assuntos em alta no setor, como a discussão em torno das loterias municipais e a proposta de legalização dos cassinos físicos no Brasil.
Confira abaixo:
Você pode pode fazer um balanço desses quase três anos de operação da Lottopar?
O balanço é muito positivo. Claro que é um setor pujante, mas também bastante desafiador, principalmente no início, quando não havia muita informação disponível. Sempre digo: quando se faz um edital de administração pública para, por exemplo, aquisição de veículos, basta uma busca na internet para encontrar centenas de modelos. É possível comparar, adaptar e aprimorar. No nosso caso, não havia referência. Tivemos que começar do zero.
Buscamos experiências fora do Brasil para nos ajudar a estruturar nosso primeiro edital. Foi um trabalho desafiador, mas considero que iniciamos com êxito a regulação estadual. Esse é um processo contínuo, mas os primeiros passos foram muito bem dados — tanto que outros estados hoje seguem o nosso modelo. Isso nos enche de orgulho.
Naturalmente, sempre há pontos que poderiam ser melhorados. Talvez, olhando para trás, três anos depois, algumas escolhas pudessem ter sido diferentes. Mas, no geral, o resultado é muito positivo. Hoje, a loteria estadual é uma realidade no Paraná.
Já temos a Raspinha com mais de 2.500 pontos de venda, e a previsão é ultrapassar cinco mil até o fim do ano. Também implantamos a loteria instantânea nos VLTs (terminais de videoloteria) — uma inovação no Brasil. Esses jogos usam a matemática da Raspinha e seguem o padrão GLI-14.
Até o final do ano, o operador pretende lançar 100 casas de apostas exclusivas com VLT. Além disso, o jogo de prognóstico deve ser lançado até meados do ano. Estamos felizes por ampliar as opções de entretenimento para a população. Antes, a única alternativa era a Caixa Econômica Federal, com um modelo tradicional, mas o mercado já pedia algo novo — e legal.
Sobre o domínio bet.br: a Lottopar e a Loterj solicitaram que os operadores estaduais licenciados também possam utilizá-lo. Houve algum retorno? Existe expectativa de acesso?
A postura do governo federal tem sido positiva. Eles solicitaram um conjunto mínimo de requisitos — um checklist básico da indústria: uso de laboratórios, práticas de jogo seguro e responsável, por exemplo. E isso é algo que todos deveriam cumprir.
A ideia é que o domínio bet.br funcione como um selo de qualidade. Concordamos totalmente. Aliás, já atendemos a todos esses critérios. Por isso, não foi surpresa para nós. Queremos que o bet.br seja sinônimo de credibilidade, utilizado apenas por empresas que passaram por um processo rigoroso de qualificação.
Há agora também a discussão sobre uma possível legalização dos cassinos físicos, que será votada ainda no Senado. Olhando um pouco mais para frente, a Lottopar teria a pretensão de também entrar nessa regulamentação, da mesma forma que vocês fizeram a regulamentação estadual com as bets? Ou você vê que há algo que vai ficar exclusivamente com a União? Questão de licença, fiscalização, operadores, etc.
Vejo a regulamentação como algo que pode ser compartilhado. Certamente haverá aspectos que cabem ao governo federal — como a definição do número de cassinos, os jogos permitidos, as regras gerais. Mas, nos aspectos regionais, os estados têm um papel fundamental. Estão mais próximos, conseguem fiscalizar com mais agilidade.
Entretanto, se a decisão for de manter tudo no âmbito federal, aceitaremos com tranquilidade. Somos grandes incentivadores da indústria. Acreditamos que o Brasil já passou da hora de legalizar os cassinos.
O Paraná vai poder ter um cassino pela atual proposta que está no Senado. Qual cidade do estado você acha que tem potencial para receber esse cassino?
Quando se fala em cassino, muita gente pensa no modelo de Las Vegas — levar o investimento para regiões menos desenvolvidas, impulsionando seu crescimento. O problema é que isso exige tempo: construção de aeroportos, vias de acesso, estrutura hoteleira. Isso pode atrasar a implantação.
Por outro lado, Foz do Iguaçu já tem um apelo turístico forte. Seria uma excelente opção. Mas, sob a ótica da viabilidade financeira, talvez Curitiba também seja considerada — por ser uma grande metrópole.
Se for autorizado apenas um cassino no estado, será preciso avaliar cuidadosamente. Na minha visão, dois cassinos talvez fossem o ideal. Um em área urbana consolidada, outro em polo turístico.
Hoje, o cassino moderno não gira apenas em torno do jogo. É um complexo de entretenimento completo: alimentação, shows, hospedagem.
As loterias municipais estão gerando uma discussão. Inclusive, tem uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a legalidade dessas loterias. A Lottopar chegou a notificar extrajudicialmente Bodó (RN), uma cidade que estava oferecendo uma licença por R$ 5 mil e tinha operador licenciado lá ofertando aposta para todo o Brasil. Qual é a sua visão sobre loteria municipal?
Já existe a ADPF 337, julgada pelo Supremo Tribunal Federal, que trata justamente da criação de uma loteria por um município do Maranhão. Na ocasião, o STF foi claro: os municípios não podem instituir loterias.
Essa decisão continua válida — salvo se for revogada ou houver novo julgamento. Portanto, hoje, entendo que os municípios não têm essa prerrogativa.
Além disso, há o aspecto prático. São mais de cinco mil municípios no Brasil. Imagine se surgissem 300 “Bodós” ao mesmo tempo — como o caso de Bodó (RN), que oferecia licença por R$ 5 mil e permitia operação em todo o país. A fiscalização seria impossível, e quem perderia seria o público, com jogos possivelmente mal regulados.
Acredito que os municípios já têm sua contrapartida, como o ISS. Podemos pensar em reforçar esse retorno, mas a responsabilidade regulatória deveria ficar com estados e União, que têm estrutura para isso.
Quando um operador escolhe atuar em municípios que oferecem licenças a preços irrisórios, sem checagem mínima, sem laboratórios, sem garantias ao jogador, isso se aproxima de um mercado paralelo. A Lottopar já notificou Bodó e Miguel Pereira (RJ), por exemplo.
Sou contrário às loterias municipais, mas, se houver mudança legislativa ou nova decisão judicial, cumpriremos da mesma forma. O Paraná respeita e segue as determinações judiciais.
A Lottopar vai fazer um evento junto com a Corporação Iberoamericana de Loterias e Apostas do Estado (Cibelae) em Foz do Iguaçu, de 24 a 26 de junho. Você poderia falar um pouco sobre como estão os preparativos e a expectativa?
A Cibelae realiza encontros trimestrais entre seus membros, e o próximo será no Paraná, que foi pioneiro na regulamentação estadual. O evento será realizado em Foz do Iguaçu, destino turístico estratégico, com apoio da Lottopar.
Recebemos recentemente a confirmação de que a World Lottery Association (WLA) também estará presente. Portanto, será um evento promovido em conjunto por Cibelae, WLA e Lottopar.
Estamos convidando todas as loterias estaduais a participarem. Aprendemos muito observando outros países — como o Peru, a Argentina e o Chile. E queremos que outros estados também tenham essa oportunidade.
Além de trocar conhecimento, é uma excelente chance de conhecer o Paraná.
Caso queira acrescentar algo que não foi perguntado, fique à vontade.
Estamos muito confiantes no projeto da Lottopar. O produto que estamos entregando à população é confiável, seguro e foi rigorosamente testado. Acreditamos que este será o ano da consolidação das loterias estaduais, e esperamos ver mais estados adotando esse modelo em benefício da população.