Um artigo publicado em uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo alerta para um quadro de risco crescente à saúde pública mundial provocado pelas apostas esportivas e cassinos digitais.
Publicado na última quinta-feira, 24 de outubro, a pesquisa feita por um time de especialistas em saúde pública na revista The Lancet chegou à conclusão de que cerca de 46,2% dos adultos do planeta e 17,9% dos adolescentes fizeram alguma aposta no ano passado.
A extrapolação dos dados leva a um universo de 450 milhões de pessoas apostando e 80 milhões apresentando algum tipo de distúrbio relacionado à prática, como a ludopatia.
A pesquisa completa pode ser conferida neste link.
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Resultados das pesquisas na página da The Lancet (Foto: Reprodução)
A pesquisa estima que 9% dos adultos e 16% dos adolescentes que apostam em jogos de esportes online têm dependência ou vício. Os índices são ainda maiores quando as apostas são feitas em cassinos e caça-níqueis online: 16% e 26%, respectivamente.
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No Brasil, uma pesquisa recente realizada pelo PoderData revelou que 24% dos brasileiros já realizaram apostas online em bets. Em contrapartida, 73% dos entrevistados afirmaram nunca ter feito apostas, e outros 3% preferiram não responder.
“Apostas não são um tipo de lazer; podem fazer mal à saúde e viciar. Os danos associados às apostas são amplos, afetando não apenas a saúde e o bem-estar de uma pessoa, mas também suas finanças, relações pessoais, famílias e comunidades, com consequências para a vida toda e aumentando a desigualdade”, escreve o artigo, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo.
O texto também aponta que “governos e legisladores precisam tratar as apostas como questão de saúde pública, como já se faz com outros produtos que viciam e fazem mal, como álcool e tabaco”.
Porém, o relatório demonstra que a indústria de apostas não tem um produto comparável a qualquer outro negócio, já que não há, por exemplo, limites físicos que interrompam o consumo, como comida, álcool e cigarro. A oferta online é 24 horas por dia, sendo o único limite a quantidade de dinheiro que o apostador consegue empenhar.
Além da análise, o painel montado pela revista faz diversas recomendações, que contrastam com a realidade de muitos países, incluindo o Brasil, em relação a apostas.
São elas:
1. Apostas são um problema de saúde pública, e governos devem priorizar seu controle a despeito de motivações fiscais;
2. A regulação em todos países, seja o jogo permitido ou não neles, deve reduzir a população exposta ao problema, com proibição ou restrição de marketing, publicidade e patrocínios; oferecer apoio a vítimas do vício; desnaturalizar a prática da aposta, com campanhas de conscientização;
3. Países que permitem o jogo precisam de um regulador independente e empoderado, que garanta proteção à saúde pública, a crianças e adolescentes, consumidores e implemente limites financeiros aos apostadores;
4. Reguladores e legisladores precisam estar protegidos da influência da indústria de aposta e de estudos ou tratamentos patrocinados por ela;
5. Entidades intergovernamentais e da ONU devem desenvolver estratégias para combater os efeitos danosos das apostas em nível internacional;
6. Envolvimento da sociedade civil, acadêmicos e vítimas de distúrbios relacionados a apostas em uma aliança internacional contra o problema;
7. Análise em assembleia de uma resolução da Organização Mundial da Saúde que dê a dimensão devida à questão de saúde provocada pelas apostas.