VICE-PRESIDENTE E CFO DO GRUPO ESPORTES GAMING BRASIL

Marcela Campos: "Copa do Mundo deve impulsionar a entrada de novos usuários; o diferencial competitivo, porém, estará na retenção"

Imagem: divulgação
24-12-2025
Tempo de leitura 4:30 min

Combater o ilegal com firmeza, garantir segurança jurídica e estimular inovação responsável. Essas são as condições para que o Brasil se consolide como referência no iGaming, afirma Marcela Campos, vice-presidente e CFO do grupo Esportes Gaming Brasil, em entrevista exclusiva ao Yogonet.

Em 2025, o grupo, que já operava as marcas Esportes da Sorte e Onabet, fez o lançamento de sua terceira plataforma, a Lottu. Para 2026, a expectativa é que seja um "ano de consolidação das bases".

"Esperamos avanços em integração financeira, governança, integridade esportiva e ferramentas mais sofisticadas de jogo responsável, mais do que rupturas tecnológicas", prevê a executiva.

Campos também abordou temas como tributação, expectativa em relação à Copa do Mundo e presença feminina no iGaming. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

O ano de 2025 foi especial para o setor de apostas porque marcou os primeiros 12 meses de mercado regulado. Como você avalia esse período? O Brasil está caminhando bem no equilíbrio entre proteção ao apostador e sustentabilidade do negócio?

Os primeiros 12 meses consolidaram um setor econômico que veio para ficar. Uma atividade antes difusa passou a operar dentro de um ambiente regulado, com regras claras, supervisão contínua, padrões de compliance e mecanismos de proteção ao consumidor.

Hoje, falamos de um mercado que já representa quase 1% do PIB, com faturamento estimado em R$ 22 bilhões, impacto econômico potencial de R$ 28 bilhões, cerca de R$ 7,5 bilhões em capital próprio investido e mais de 15,5 mil empregos formais, com salário médio acima da média nacional.

O desafio agora é o equilíbrio. A carga regulatória e tributária combinada — licenciamento, tributos corporativos, contribuições e imposto seletivo — está entre as mais altas do mundo. Se esse ambiente se tornar excessivamente oneroso, o risco é deslocar o consumidor para o mercado ilegal. A maturidade do próximo ciclo passa por estabilidade, previsibilidade e calibragem regulatória que proteja o apostador sem comprometer a sustentabilidade do setor.

Imagem: divulgação/Esportes da Sorte

Em relação ao grupo Esportes Gaming Brasil, como você avalia 2025? Quais foram as principais conquistas do ano?

Para o Esportes Gaming Brasil, 2025 foi um ano de consolidação institucional. Reforçamos a governança, fortalecemos lideranças técnicas e estruturamos times mais orientados a dados, eficiência e resposta rápida às mudanças regulatórias, especialmente em áreas sensíveis como compliance, prevenção à fraude e integridade esportiva.

Também avançamos em tecnologia e produto. Aprofundamos a parceria com a Sportradar, ampliando o uso de ferramentas de inteligência artificial para jogo responsável, como o Bettor Sense. Lançamos a Lottu, uma marca concebida integralmente no ambiente regulado, e colocamos no ar o novo aplicativo do Esportes da Sorte na Google Play, com ganhos claros em estabilidade, acessibilidade e experiência do usuário.

Para 2026, há metas específicas? Sendo ano de Copa do Mundo, vocês projetam crescimento nas plataformas do grupo?

O ano de 2026 tende a ser um ano de consolidação das bases. Esperamos avanços em integração financeira, governança, integridade esportiva e ferramentas mais sofisticadas de jogo responsável, mais do que rupturas tecnológicas.

A Copa do Mundo deve impulsionar a entrada de novos usuários e o volume de apostas, o que é natural. O diferencial competitivo, porém, estará na retenção. O foco será transformar picos de audiência em relacionamentos de longo prazo, com onboarding responsável, comunicação transparente e um ambiente seguro. A Copa será, na prática, um grande teste de fidelização.

O grupo também ampliou ações sociais e ambientais em 2025. Qual é a importância desse compromisso no setor de apostas?

No setor de apostas, a licença regulatória precisa caminhar junto da licença social para operar. Não basta cumprir regras e recolher impostos; é fundamental gerar valor real para a sociedade. Ao apoiar iniciativas esportivas inclusivas, projetos sociais e ações ambientais, mostramos que nossa atuação vai além da plataforma digital e alcança territórios e comunidades.

Em um setor que movimenta bilhões e já representa quase 1% do PIB, a responsabilidade precisa ser proporcional. O risco estrutural está no mercado ilegal, que não adota limites, não protege o consumidor e não gera contrapartidas sociais. O setor regulado deve ser parte da solução — financiando o esporte, gerando empregos e deixando legado.

A presença feminina em cargos de alto escalão ainda é pequena. Você percebe evolução na diversidade dentro da indústria?

Ainda é um ambiente majoritariamente masculino, especialmente nas posições de liderança e áreas técnicas. Em fóruns e eventos do setor, a participação feminina em espaços de decisão segue limitada.

Há, no entanto, uma mudança em curso. Cresce o número de mulheres liderando debates sobre regulação, tecnologia, compliance e jogo responsável. No Esportes Gaming Brasil, esse movimento é intencional: diversidade nos processos de recrutamento e promoção, desenvolvimento de lideranças e ambientes seguros para que mulheres ocupem posições estratégicas. Representatividade não deve ser exceção, mas regra em uma indústria que se propõe moderna.

Qual é a principal vantagem competitiva de um operador brasileiro frente aos grupos internacionais?

Ser uma empresa nascida no Brasil proporciona uma vantagem concreta: compreensão profunda do comportamento do torcedor, da relação cultural com o esporte, dos meios de pagamento e da diversidade regional. Isso permite parcerias mais genuínas com clubes, projetos culturais e comunidades.

Operadores locais tendem a ser mais ágeis na adaptação regulatória e na integração entre compliance, jogo responsável e experiência do usuário. A regulação elevou o nível de exigência para todos, mas a fluência local acelera decisões e execução.

Como funciona o portfólio de marcas do Grupo Esportes Gaming Brasil?

O grupo opera três marcas complementares, todas sustentadas pelos mesmos padrões de compliance, KYC, integridade e responsabilidade.

O Esportes da Sorte é o carro-chefe, com alto reconhecimento nacional e forte presença no esporte e no entretenimento. A Lottu nasceu já no ambiente regulado, com arquitetura moderna e jornadas rápidas, dinâmicas e personalizadas. A OnaBet é focada em entretenimento e experiência de cassino, sempre ancorada em UX e jogo responsável. Operar múltiplas marcas não é volume, é precisão estratégica: públicos distintos, expectativas diferentes e uma única estrutura responsável.

Gostaria de acrescentar algo que não foi perguntado?

Dois pontos merecem destaque. O primeiro é o combate ao mercado ilegal. A derrubada de cerca de 20 mil sites irregulares foi um avanço relevante, mas não definitivo. O passo seguinte é aprofundar a integração com o sistema financeiro, ampliar automação de alertas e qualificar o compartilhamento de dados para bloquear contas laranja e fluxos suspeitos com mais velocidade.

O segundo ponto é a previsibilidade regulatória e tributária. A arrecadação prevista para 2025 gira em torno de R$ 9 bilhões, além do impacto em cadeias como tecnologia, publicidade e eventos. O setor não pede benefícios, mas estabilidade. Combater o ilegal com firmeza, garantir segurança jurídica e estimular inovação responsável são condições para que o Brasil se consolide como referência global em iGaming.

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