Em seu primeiro ano sob um ambiente regulado, o mercado brasileiro de apostas online passou por uma transição estrutural que testou a maturidade dos operadores.
De acordo com a diretora de operações (COO) da Betsul, Andreia Oliveira, 2025 exigiu estabilidade tecnológica, governança sólida e uma revisão profunda das jornadas do apostador, em um cenário de maior fiscalização e expectativas mais altas por parte do público e do regulador.
Nesta entrevista exclusiva para o Yogonet, a executiva analisa os principais desafios enfrentados no primeiro ciclo da regulamentação, avalia o novo ambiente competitivo e aponta os caminhos de inovação, responsabilidade e eficiência que devem moldar o setor de apostas esportivas no Brasil nos próximos anos.
Qual foi o maior desafio operacional para a Betsul nesse primeiro ano de regulamentação e o que ainda falta ajustar no curto prazo?
O primeiro ano de regulamentação exigiu uma profunda reestruturação
operacional em todo o setor. O principal desafio foi integrar, de forma simultânea,
conformidade regulatória, estabilidade tecnológica e experiência do usuário, sem
comprometer a continuidade do negócio.
No nosso caso, o ponto mais sensível foi alinhar tecnologia, compliance e experiência do cliente no mesmo pulso: integração com o Sistema de Gestão de Apostas (SIGAP), trilhas de verificação do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), CPF, domínio ".bet.br", antifraude mais inteligente e jornadas mais limpas de depósito e saque via Pix. Tudo sem travar a operação e equilibrando receita x despesas. Para a Betsul, isso significou fortalecer processos, adaptar sistemas, integrar-se às exigências do regulador e elevar o nível de governança interna.
A regulamentação trouxe mais segurança e transparência, mas também demandou agilidade para implementar mudanças complexas em um curto espaço de tempo. No curto prazo, o ajuste mais relevante está na padronização e no amadurecimento do ecossistema como um todo, incluindo integrações tecnológicas, fluxos operacionais e intercâmbio de dados entre regulador, provedores e operadores. A tendência é de evolução contínua, com ganhos relevantes em eficiência e previsibilidade.
Como você avalia o novo cenário competitivo? Quais movimentos diferenciam a
Betsul no pós-regulamentação?
O cenário competitivo pós-regulamentação deixou de ser um ambiente improvisado para se tornar uma verdadeira liga profissional. A partir do momento em que compliance, rastreabilidade e responsabilidade passaram a ser pré-requisitos e não diferenciais, o setor finalmente ganhou contorno de indústria.
Hoje, sobreviver não depende apenas de marketing agressivo ou de bônus generosos, mas de estabilidade, governança e capacidade operacional real. E é exatamente aí que a Betsul se posiciona com clareza.
Entramos neste novo ciclo com processos já maduros, equipes preparadas e decisões
orientadas por dados, o que nos permitiu atravessar a transição regulatória com segurança.
Um exemplo simples: enquanto muitas casas precisaram reescrever fluxos inteiros de
verificação para atender ao SIGAP e ao Serpro, já estávamos preparados com trilhas
automatizadas, auditoria contínua e padrões internos superiores aos exigidos. Não
reagimos ao regulador, dialogamos com ele a partir de uma estrutura pronta.
Outro ponto central é o atendimento como elemento estratégico. O mercado percebeu que, sob regulamentação, o apostador não aceita respostas genéricas nem canais lentos. Ele quer previsibilidade, acolhimento e solução no primeiro contato. A expertise foi decisiva para isso, elevando nosso NPS e nossa taxa de resolução em cenários que historicamente eram gargalos para o setor.
Houve um caso emblemático no primeiro trimestre pós-regulação: enquanto várias casas enfrentavam filas de suporte de mais de 48 horas após mudanças nas APIs bancárias, estabilizamos a operação em poucas horas, comunicando o cliente com transparência e resolvendo o impacto de forma humana e técnica ao mesmo tempo.
Isso gera confiança no ativo mais valioso em ambiente regulado.
Além disso, tratamos o jogo responsável como política pública interna, não como peça de comunicação. Isso significa educar, orientar, monitorar comportamentos de risco e disponibilizar ferramentas simples e efetivas. Não é campanha, é prática. E essa postura cria um tipo de retenção que o mercado às vezes esquece: a do cliente que volta porque se sente seguro e bem tratado.
Por fim, há a nossa cultura de inovação madura, livre da euforia do lançar por lançar. A
inovação que buscamos é a que melhora a vida do apostador e reduz ruído operacional: pagamentos mais rápidos, estabilidade de plataforma, comunicação responsável e fluxos intuitivos.
Olhando para 2026, quais inovações, seja em produto, automação, inteligência artificial (IA) ou atendimento, você destaca como potenciais transformadoras para o setor de apostas online no Brasil?
Olhando para 2026, esperamos que o setor brasileiro alcance o mesmo nível de
mercados mais maduros. A inovação que realmente vai mudar a régua não é estética, é estrutural.
A inteligência artificial, por exemplo, deixa de ser chatbot e passa a ser
resolução, uma IA que entende o contexto do cliente, antecipa dúvidas, identifica riscos e entrega solução no primeiro contato. Quando isso funciona, o cliente percebe
imediatamente que há menos atrito, mais confiança e maior permanência.
Outro ponto-chave é a precificação dinâmica inteligente. Odds e exposições passam a considerar comportamento, histórico, risco e responsabilidade, não apenas mercado e volume. Isso torna a operação mais segura e o jogo mais equilibrado para todos.
A personalização também muda de patamar. Não é mais oferta empurrada, é jornada construída, com limites adequados, avisos inteligentes, pausas sugeridas e conteúdos alinhados ao perfil real do apostador. É proteção que não infantiliza e experiência que respeita.
Vejo também uma evolução natural para produtos híbridos entre esportes e cassino. O brasileiro gosta de fluidez, não de plataformas fragmentadas. Experiências conectadas engajam mais e fazem mais sentido para o usuário final.
E, sustentando tudo isso, está a automação do compliance em tempo real, com auditoria contínua, monitoramento inteligente e respostas rápidas. Sem isso, não existe mercado saudável. Em resumo, 2026 será o ano em que a tecnologia deixa de ser promessa e se torna critério de consolidação.
A comunicação de jogo responsável evoluiu rapidamente. Quais abordagens vocês
descobriram que realmente funcionam para reduzir comportamentos de risco entre
apostadores?
Nesse período de um ano após a regulamentação, descobrimos três pilares que
geram impacto real. O primeiro é trabalhar com mensagens simples, diretas e sem
julgamentos: o apostador respeita a transparência quando não se sente acusado.
O segundo pilar são ferramentas úteis e não burocráticas: limite de depósito, pausa voluntária, histórico visual do comportamento e avisos inteligentes. A nossa lógica é simples: dois cliques, zero atrito.
Por fim, o terceiro pilar é o conteúdo que cria consciência, não medo: artigos, vídeos e campanhas que mostram a mecânica real das apostas, probabilidade, volatilidade e curva emocional. Quando ele entende o jogo, ele se protege. A retenção mais valiosa é a do cliente que volta porque confia.
Como líder feminina em um setor historicamente masculino, qual é sua percepção
sobre diversidade e espaço para mulheres em posições estratégicas na indústria de
betting e tecnologia?
Atuar como líder feminina em um setor historicamente masculino é, acima de
tudo, uma demonstração de capacidade, preparo e adaptação.
A indústria de betting e tecnologia exige visão estratégica, tomada de decisão rápida, leitura de risco, sensibilidade com o cliente e domínio técnico, competências que mulheres desenvolvem com naturalidade ao longo da carreira, muitas vezes conciliando múltiplas responsabilidades ao mesmo tempo.
O que observo no mercado hoje é uma mudança silenciosa, porém consistente. Cada vez mais mulheres ocupam posições estratégicas porque entregam resultado, organização, profundidade analítica e um olhar atento ao detalhe, sem perder a visão do todo.
A capacidade feminina de transitar entre áreas, conectar pessoas, processos e números e, ainda, manter equilíbrio emocional em cenários de pressão é um diferencial real em operações complexas como as de apostas e tecnologia. Não se trata de ocupar espaço por discurso, mas por performance. Quando a régua sobe, o setor passa a valorizar quem resolve, quem estrutura e quem sustenta operações no longo prazo.
E, nesse contexto, as mulheres vêm se destacando de forma natural, especialmente em áreas como operações, compliance, atendimento, produto e gestão de risco. A diversidade, nesse cenário, não é um movimento externo, é uma consequência do amadurecimento do mercado.
À medida que a indústria se profissionaliza, ela passa a reconhecer talentos que combinam técnica, sensibilidade e resiliência. O espaço para mulheres cresce porque o mercado exige exatamente essas competências. Minha percepção é clara: a presença feminina traz consistência, visão estratégica e humanidade para decisões que impactam milhares de pessoas. E quanto mais regulado, técnico e responsável o setor se torna, mais evidente fica o valor dessa liderança.