O avanço do Pix como principal meio de pagamento do país transformou o combate ao mercado ilegal de apostas em uma operação baseada no rastreamento financeiro. Segundo Leonardo Baptista, CEO da Pay4Fun, a eficiência do sistema permite identificar e encerrar contas usadas por operadores irregulares com muito mais rapidez do que bloquear sites individualmente.
Nesse cenário, o Brasil se destaca internacionalmente pela capacidade de gerar um ecossistema mais seguro, transparente e rastreável. A integração do Pix aos operadores regulados melhora a experiência do apostador, acelera depósitos e saques e elimina a necessidade de dinheiro físico — algo que, segundo Baptista, reduz o risco de lavagem de dinheiro.
Em entrevista exclusiva ao Yogonet, ele avalia que essa combinação de tecnologia, fiscalização e educação do apostador cria as bases para um 2026 de forte expansão, impulsionado pela Copa do Mundo, pela consolidação da regulamentação e pelo combate ao mercado ilegal. Confira a entrevista abaixo:
A Pay4Fun registrou quedas nas transações de 76% em janeiro e mais de 90% em fevereiro após o início da regulamentação. O que explica essa retração tão brusca e como vocês avaliam a velocidade da recuperação observada em março? Como está esse panorama agora?
É normal ter o impacto de um mercado regulado, ter uma retração, porque veio com muita regra. O usuário, que não estava acostumado a nada — não ter que fazer caixinha, não ter que fazer onboarding, não ter que mandar documento — de repente chega num cenário completamente diferente, onde ele tem que dar todos os documentos, passar pelo KYC, se cadastrar na conta bancária… Fez parte do processo de regulamentação.
A retomada faz parte de uma educação do apostador final. Hoje o usuário já sabe que os sites autorizados e regulados são o “.bet.br”. Tem uma série de campanhas acontecendo em paralelo para educar o apostador final. E tem a questão também de credibilidade. O usuário fica mais tranquilo sabendo que, sendo “.bet.br”, ele vai poder receber o prêmio. Ele sabe que a empresa está aqui no Brasil, tem quem ele possa reclamar, no Procon ou no Reclame Aqui.
Eu acho que essa é a ordem natural das coisas, e a gente sentiu essa retomada. O mercado, teoricamente, já cresceu. Se você comparar 2025 com 2024, ele cresceu. Ele teve um crescimento que era esperado, talvez não o crescimento que todo mundo imaginava se não viesse a regulamentação, mas como veio, é um crescimento bacana.
Recuperamos os números; estamos crescendo para 2026. Eu entendo que a ordem natural das coisas é que em 2026 o mercado cresça mais ainda, alavanque mais ainda.
A gente sabe que a Secreteria de Prêmios e Apostas (SPA) está fazendo um trabalho forte com relação ao fechamento ou bloqueio dos sites ilegais, inclusive com a ajuda dos meios de pagamento para isso, caçando Pix dos sites ilegais e derrubando as instituições de pagamento que operam com sites ilegais.
E a SPA vai fazer um credenciamento para o ano que vem. Ela já divulgou na agenda regulatória que vai fazer o credenciamento dos provedores também, para fazer esse filtro. Então, a tendência é que o mercado legal cresça, o ilegal diminua e, também com a educação do setor, novos usuários acabem entrando.
Um levantamento da Pay4Fun mostrou o fechamento de 483 contas ligadas a apostas ilegais. O que esse número revela sobre a evolução do combate ao mercado irregular?
Felizmente o Brasil — e eu sempre falei isso nas palestras que eu participo — tem a possibilidade de ser o maior mercado regulado do mundo. Porque 99,9% do mercado brasileiro está apoiado em cima do sistema Pix.
Então, já que tudo funciona com base no Pix, é a velha tática do “siga o dinheiro”. Se os ilegais estão operando com uma força que eles ainda têm — 50% do mercado — como é que você derruba os ilegais? Siga o dinheiro.
Então, vamos fechar as contas Pix que esses caras usam por meios de instituições de pagamento não autorizadas. E esse estudo que foi feito pela Pay4Fun mostra justamente isso: que está havendo uma caça forte às contas bancárias não autorizadas, dessas instituições de pagamento não autorizadas, fechando o jogo ilegal.
Não adianta você ficar fechando site por site, URL por URL dos ilegais. É um trabalho ingrato, é enxugar gelo. Hoje você fecha três; amanhã tem quatro.
No final das contas, vale muito mais a pena você fechar o meio financeiro, o canal bancário, que aí você realmente acaba prejudicando ele [o site ilegal] de uma maneira que, para ele voltar, é muito mais difícil.

A Pay4Fun projeta um aumento significativo no volume de transações durante a Copa do Mundo? Há algum plano de expansão caso a demanda aumente?
A gente vê números crescendo absurdamente em grandes eventos esportivos. Isso sempre acontece no nosso mercado. A final da Libertadores teve um boom. Final de Champions, explode. Super Bowl, explode. Todos os grandes eventos sempre levam a um boom.
Uma Copa do Mundo é o maior evento esportivo, disparado. Eu acho que 2026 vai ser uma soma de fatores: fechamento do mercado ilegal, fechamento das contas de meios de pagamento ilegais, com os novos credenciamentos que a SPA vai fazer, com a Copa do Mundo e a educação dos apostadores.
Eu acho que a tendência é o mercado de 2026 explodir em todos os números, bater números enormes. E logicamente essa expansão do mercado de apostas no Brasil leva a pensar em trazer uma série de novas ferramentas para o mercado brasileiro.
A gente já trouxe o IP, o iniciador de pagamentos, que vem muito de mão dada com biometria. Basicamente, são as mesmas soluções, oferecidas de maneira diferente, com tecnologias diferentes, mas é a mesma solução.
A gente está trazendo o PIX recorrente, que seria um modelo de assinatura. Estamos indo buscar, ainda em primeira mão, uma solução também para o PIX na linha do débito online — tentar não depender tanto da rede PIX do Banco Central e atacar uma nova solução que seria através do débito online.
E também uma boa notícia para 2026, que a gente espera que a SPA abrace a ideia: com a regulamentação das criptos pelo Banco Central, que agora está acontecendo, a gente entende que a SPA deve trazer as criptos como um meio de pagamento para o mercado de bets. E a gente com certeza vai oferecer isso para os nossos operadores.
Você acha que o Brasil se destaca diante do mercado internacional devido ao Pix como método de pagamento?
Se você olhar de maneira geral o UX — User Experience — por parte do apostador, o que ele quer? Colocar o dinheiro de uma maneira fácil, rápida, que entre rápido no ambiente do operador.
Só para dar uma ideia de números: hoje a gente processa um Pix em 0,4 segundo — menos de um segundo. E na hora do pagamento também. O usuário termina de fazer aquela aposta esportiva, acabou o resultado, acabou o jogo, ele já consegue sacar em questão de segundos, já está depositado.
Isso é um diferencial brutal do mercado financeiro. Facilita demais. Se você comparar com outros meios de pagamento de outros mercados, o Brasil tem essa vantagem.
E na população brasileira, quantas pessoas andam com dinheiro hoje? Quantas pessoas sabem o número da conta bancária de cabeça? Hoje, praticamente quase ninguém. Hoje é tudo Pix. Nesse sentido, o Brasil tem uma vantagem fenomenal.
E com a regulamentação dos cassinos — que pode vir a acontecer no próximo ano — ao acabar com dinheiro físico, zera a questão da lavagem de dinheiro. Por exemplo, operamos no mercado das loterias estaduais, nos terminais de aposta dos VLTs, dos Video Lottery Terminals, já tem uma solução de PIX integrada ali. Não precisa mais de dinheiro para nada: nem para depositar, nem para sacar. E você elimina qualquer tipo de lavagem de dinheiro.

Qual é o balanço que a Pay4Fun faz do primeiro ano de regulamentação das bets no Brasil? Quais avanços foram mais relevantes?
O primeiro ano de regulamentação não é um ano fácil. Existe adaptação por parte de todo o setor, com todos os stakeholders envolvidos. Mas leva-se um tempo. É muito complicado para todo mundo entender o que é uma regulamentação: provedores, operadores, apostadores entenderem que eles precisam, e que é para a própria segurança deles, passar por esse processo de "conheça seu cliente". Mandar documentação, validar a sua conta… é para a segurança dele mesmo.
Então, eu acho que foi um ano difícil, mas de adaptação — e que promete. Porque a gente está montando a base da casa. O mercado brasileiro tem só um ano de mercado regulado. Foi um ano difícil, foi um ano complicado, mas foi um ano de preparação para um 2026 que, ao meu ver, vai ser o melhor ano da história do jogo no Brasil. Tem muita coisa boa para acontecer.
Eu acho que o principal foco precisa ser o combate ao mercado ilegal. A SPA não pode tirar o pé disso. Tem que bater muito forte com Receita Federal, com Banco Central, com Polícia Federal. Porque só fechando o mercado ilegal é que a gente vai conseguir crescer o mercado legal e tornar ele mais sustentável.
Em 2026, com a Copa do Mundo, com todas as novas tecnologias chegando, só tende a explodir cada vez mais e o céu é o limite. Paralelo a tudo isso, se a gente conseguir passar a aprovação da lei dos cassinos, eu tenho certeza que o Brasil vai se tornar o maior país do mundo no mercado de apostas, sem dúvida nenhuma.