CEM MILHÕES DE JOGADORES NO PAÍS

Falas e promessas não cumpridas colocam Lula na mira dos 'gamers', setor dominado pelo bolsonarismo

Lançamento da cartilha Lula Play na campanha de 2022: documento passou a ser usado pelo petista para acenar ao segmento
12-02-2024
Tempo de leitura 4:06 min

A relação entre o governo Lula e os gamers de eSports estão estremecidas. Depois de diversas promessas de campanha, como a regulamentação da profissão de desenvolvedor e de criar cursos técnicos e de ensino superior para a área, de rever regras de banda larga para dar fim ao limite de consumo de dados e acelerar a conexão, a comunidade gamer passa a cobrar ações mais concretas do atual presidente. 

A reportagem é de O Globo

Em junho de 2022, às vésperas das eleições, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou a quarta redução consecutiva na alíquota de impostos para importação de videogames e acessórios. O aceno ao setor teve como contra-ataque a elaboração da cartilha Lula Play, um documento entregue em mãos ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com propostas para a área que passou a ser citado pelo petista na campanha.

Leia: Projeto no Senado destina recursos das loterias para eSports

Com quase cem milhões de jogadores no país, grande parte também eleitores, e movimentado cifras bilionárias, o universo gamer entrava de vez na acirrada disputa política brasileira.


As propostas da cartilha Lula Play vêm tramitando entre diferentes ministérios, mas com poucas ações concretas. A lentidão em dar andamento a essas propostas é mal recebida até entre os raros aliados no setor, majoritariamente dominado pelo bolsonarismo. Apoiador da atual gestão e um dos elaboradores da Lula Play, o jornalista Pedro Zambarda cobra celeridade do Planalto:

— O governo tem que fazer mais. Precisamos de editais fixos voltados para os games, e que os jogos eletrônicos possam se tornar política de estado — defende Zambarda.

Inação

O governo sofreu muitas críticas quando a então ministra do Esporte, Ana Moser, afirmou, no início de 2023, que esportes eletrônicos — os chamados “e-sports” — não são esportes e que não faria investimentos neste nicho,. Após a repercussão negativa, Moser voltou atrás. Segundo pessoas ligadas ao setor, o atual ministro, André Fufuca, teria visão diferente sobre o tema.


Lula e Ana Moser
 

Enquanto o governo não age, a oposição tenta aproveitar o vácuo. Apresentado em 2021 pelo deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), o Marco Legal dos Games englobou parte das demandas presentes na Lula Play e tem tramitação avançada no Senado. A previsão do parlamentar é que o projeto seja aprovado na Comissão de Educação ainda este mês.

"O governo ainda engatinha em relação ao setor. Não se vê um incentivo efetivo, uma política pública abrangente", critica Kataguiri.

Representantes do setor apostam que as disputas políticas têm o potencial de, enfim, tirar o Brasil do atraso na comparação com outros países.

"O Brasil precisa cumprir o que o resto do G20 já faz: um conjunto de leis que atenda às demandas de duas décadas do segmento", cobra o presidente da Associação de Desenvolvedores de Jogos Digitais do Rio (Ring), Márcio Filho. "Se o Marco for aprovado, o Kim vai utilizar na campanha. Assim como o governo pode dizer que foi sancionado pelo Lula. Isso é da política."

 

Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações afirmou que "conta com iniciativas em áreas que dialogam com o setor de games, como Inteligência Artificial, Cibersegurança e Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)". O Ministério da Cultura, por sua vez, disse que vai lançar, ainda no primeiro semestre, “um programa de formação técnica profissionalizante” e informou que aumentou o teto de captação via Lei Rouanet do segmento para R$ 1,5 milhão. Já o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços não respondeu ao contato.

Veja a íntegra da nota enviada pelo Ministério da Cultura

"A Secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura tem realizado, desde o primeiro ano de gestão, diálogos com a sociedade civil e o setor de games, com espaços qualificados de escuta e estruturação de políticas públicas em diferentes agendas, no Acre, Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e Brasília.

No primeiro ano, acompanhou o PL 2796 em trâmite no congresso, atualmente aguardando audiência na Comissão de Educação e Cultura, projeto de lei que cria o marco legal para a indústria de jogos eletrônicos e jogos fantasia. A presença do Minc neste debate se dá no sentido de garantir o entendimento e as diretrizes do mercado de games como audiovisual, como linguagem, entretenimento, formação e eixo estratégico do setor audiovisual e o reconhecimento do seu potencial de internacionalização da cultura brasileira.

A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, a partir da escuta dos agentes do setor, mapeamento das demandas prioritárias e na sua premissa básica de defesa da coexistência de telas, atores sociais e modos de fazer e pensar o audiovisual no Brasil, irá lançar, ainda no primeiro semestre, programa de formação técnica profissionalizante em áreas estratégicas de games, espaço de desenvolvimento e estruturação de empresas do setor com foco no desenvolvimento de carteira de projetos e estruturação de fluxo organizacional e programa de aceleradora de empresas já consolidadas no setor, com foco na internacionalização dos jogos brasileiros.

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