"Incentivam a jogar mais": pesquisa feita na Grã-Bretanha aponta falhas em anúncios de jogo responsável

A GambleAware, entidade dedicada à prevenção e ao tratamento dos danos relacionados a apostas na Grã-Bretanha, divulgou uma pesquisa na qual aponta falhas da indústria em anúncios sobre jogo responsável.

Ao invés de incentivar a moderação, vídeos veiculados por operadores de apostas alcançaram o efeito contrário: 45% das pessoas que viram um anúncio da empresa 888, por exemplo, concordaram que o material sugere o jogo como uma diversão inofensiva.

Além da 888, vídeos sobre jogo responsável da Betfair, William Hill, British Gaming Council (BGC) e da própria GambleAware foram exibidos aos participantes da pesquisa conduzida na Grã-Bretanha. O material da GambleAware foi descrito como “o único entre os do estudo que se mostrou eficaz na redução das intenções de jogar”. 

“Os pesquisadores concluíram que o vídeo foi eficaz em normalizar a ideia de que os problemas com jogos de azar são comuns, incentivando a autorreflexão e contrariando a ideia de que jogar é uma diversão inofensiva”, afirma um comunicado no site da Gamble Aware.

“O estudo foi realizado com 4.013 participantes, que foram expostos a um dos cinco diferentes vídeos de 30 segundos. A medida principal foi o número de pessoas que clicaram no aplicativo de jogos de azar. Dois vídeos, 'Top Tips for Positive Play' (William Hill) e 'Made to Play Safely' (888), levaram a um aumento significativo nas taxas de cliques (ou seja, efeito contrário ao esperado)”, destaca o resumo da pesquisa.

Na avaliação de Alexia Clifford, diretora de comunicações da GambleAware, a pesquisa mostrou que vídeos de conscientização produzidos por operadores de jogos de azar podem apresentar mais efeitos negativos do que positivos. “É inaceitável que anúncios que afirmam ajudar as pessoas a reduzir o risco de danos estejam, na verdade, incentivando a jogar mais”, disse.

Clifford defendeu uma legislação mais forte sobre o marketing de jogos de azar, o que inclui um monitoramento mais eficaz das campanhas publicitárias veiculadas pela indústria, avisos de saúde na publicidade do setor e que todos os anúncios indiquem onde as pessoas podem obter ajuda.

O que funciona, de acordo com a pesquisa

Com base na experiência dos participantes, o estudo traz ainda exemplos de abordagem apontadas como eficientes na comunicação sobre jogo responsável. Entre elas, estão:

• “Mensagens que envolvam pessoas mostrando sua vulnerabilidade e falando sobre experiências negativas com jogos de azar, pois isso teria um impacto um pouco maior”;
• “Uma história real de alguém que passou por essa situação e conseguiu superá-la”;
• “Mensagens que descrevem claramente os impactos nocivos do jogo sobre os indivíduos e seus entes queridos foram frequentemente citadas como eficazes. Isso inclui avisos sobre dependência, ruína financeira e danos emocionais”;
• “Mensagens que forneciam etapas práticas, como estabelecer limites ou usar ferramentas disponíveis, foram valorizadas. Os participantes apreciaram o conteúdo que era construtivo e oferecia soluções”;
• “Mensagens de organizações e instituições não relacionadas com jogos de azar foram consideradas mais críveis e confiáveis. Os participantes preferiram um tom de apoio em vez de julgamento”;
• “A narrativa visual e os apelos emocionais foram destacados por sua eficácia, especialmente quando transmitiam a progressão gradual do vício em jogos de azar”;
• “Incentivar as pessoas a procurar ajuda sem estigma teve boa recepção, especialmente quando a mensagem reconheceu o vício como uma questão social mais ampla”;

Mais detalhes sobre a metodologia, os dados e conclusões obtidas pela pesquisa podem ser encontrados aqui e aqui.