ENTREVISTA COM A CEO DO SEGUROBET

Monara Shainny: "No SeguroBet, nossas decisões são embasadas em dados e gostamos de fugir do tradicional"

23-04-2025
Tempo de leitura 4:55 min

No começo de abril, o BiS SiGMA Americas reuniu executivos do setor de jogos e apostas em São Paulo (SP). Durante o evento, o Yogonet entrevistou, com exclusividade, Monara Shainny, CEO do SeguroBet, uma das primeiras plataformas a obter a autorização permanente do Ministério da Fazenda.

Na conversa, a executiva analisou os primeiros meses do mercado regulado, ressaltou a preocupação do setor diante da concorrência desleal com o jogo ilegal e explicou as estratégias de patrocínio esportivo do SeguroBet.

Confira:

O SeguroBet foi uma das primeiras plataformas que conseguiu a licença definitiva para atuar no Brasil. Como está sendo esse processo de adaptação às novas regras e exigências e como vocês veem a regulamentação?

A regulamentação foi muito desejada, principalmente para o SeguroBet, porque nascemos dentro das quatro linhas e víamos algumas práticas empregadas no mercado que não concordávamos porque sempre trabalhamos de forma ética.

Pela regulamentação desse segmento ser nova, entendemos que ia precisar de um período de adaptação que ainda não passou. No primeiro trimestre do ano, o mercado se retraiu. Costumo dizer que é a dor do crescimento. Então, estamos ainda em processo de conseguir se adaptar a alguns ajustes que eram necessários, mas estamos aprendendo a voltar a escalar dentro desse novo modelo da regulamentação.

Conversando com outros executivos, muitos deles me falaram da preocupação com o jogo ilegal, que está tendo uma perda muito grande de apostadores para o mercado clandestino. Você compartilha dessa preocupação também?

Reitero porque realmente a gente está sofrendo com isso. A parte governamental e de fiscalização, infelizmente, não está acontecendo da maneira eficiente que deveria. 

Vou te dar um exemplo: se entram cinco pessoas a mais num jogo de futebol onde só poderiam 11, essas pessoas vão ser retiradas porque a regra está clara para os dois times. Nós estamos jogando com 50 pessoas no campo e ninguém retira essas pessoas. Por mais que seja clara a regra, ainda se permite a brecha.

A gente optou em fazer esse aporte de R$ 30 milhões para a licença e mais R$ 5 milhões de reserva acreditando que a regra do jogo ia ser cumprida, e ela não está sendo.

O que eu poderia sugerir com relação a isso? Primeiro, que realmente acontecesse uma fiscalização. Se você falar com qualquer operador, ele vai te dar uma lista de 20 sites para onde ele entende que está indo o tráfego, que ele entende que estão sendo usados por meio de métodos de pagamento.

A próxima pergunta é uma opinião mais pessoal sobre uma discussão que vem desde o ano passado: proibir ou não proibir beneficiários do Bolsa Família de fazer apostas online. Quem é a favor da proibição fala que é um dinheiro que deveria ser usado para subsistência. Agora, quem é contra a proibição fala que isso poderia favorecer o jogo ilegal, porque o apostador não conseguiria apostar nas bets legalizadas e iria ao mercado clandestino, no qual não tem há controle. Como você vê essa questão?

Não acho que a proibição seja a maneira correta para resolver uma dor. Proibir é colocar um band-aid em uma ferida que está muito exposta. Acho que a discussão inicial é o Bolsa Família. Ele nasce para poder ter ali um recurso para subsistência, como você comentou. Então, será que está sendo fiscalizado da maneira correta? Será que quem está recebendo Bolsa Família realmente precisa? É utilizado realmente para isso? É um complemento de renda?

Se é um complemento de renda, não tem como hoje, infelizmente, o governo me dar a garantia de aquela pessoa, aquele CPF, só tem esse recurso.

Nós estamos falando de Brasil, em que a grande maioria é estimulada a empreender porque não tem oportunidade de emprego que pague um recurso maior. E aí, você tem sempre uma renda extra. Então, você recebe o Bolsa Família, mas você vende Natura, vende Avon, você vende qualquer outra coisa para poder complementar sua renda.

A gente já fez um levantamento entre os jogadores da nossa plataforma para entender o impacto disso. Tenho condições de comprovar o consumo deles, que não vem atrelado só ao Bolsa Família.

Hoje, se for tomada essa decisão de proibir achando que vai resolver, eu concordo que vai fomentar o mercado não regulado. Então, vamos trabalhar de uma outra forma. Acho que tem de se trabalhar com o que foi proposto, que é o jogo responsável. O jogo responsável é muito mais amplo


Imagem: Luiz Vieira/Instagram JEC

Sobre a questão dos patrocínios, o SeguroBet está patrocinando, pela primeira vez, dois times de futebol masculino: Joinville e Ferroviário. Como vocês veem essa oportunidade em termos de negócio? Daqui a alguns anos, já dá para vislumbrar a empresa disputando patrocínio de times como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos ou ainda é muito cedo para falar disso?

A gente começou fazendo um teste com o Fortaleza Basquete Cearense, o Carcalaion. Foi um teste para poder entender o que poderia ser feito de negociação, o que poderia ser feito de interação com as nossas ideias, isso antes da regulamentação. 

Fizemos um trabalho no fim do ano passado com as placas do Brasileirão que deu uma visibilidade tanto para os jogadores quanto para os parceiros, de entenderem que era interessante também vincular a marca ao SeguroBet. 

A gente possui, sim, o sonho de estar em alguns clubes que entendemos que têm,  pela trajetória, conexão com o nosso público. A nossa decisão é sempre embasada em dados como “onde está o nosso público? Onde está o perfil do nosso cliente? O perfil do SeguroBet?” Eu tenho um ranking com os dez maiores estados que investem e que realmente estão lá, que eu consigo trabalhar uma boa retenção. Por que patrocinar um clube de Joinville e não um clube paulista? É baseado nos dados.

O Ferroviário foi um namoro de muito tempo. É uma excelente trajetória que os meninos fizeram e está de acordo com o que a gente tem possibilidade de investir e cumprir. Eu acho que isso é importante também. Temos um nome que a gente zela, principalmente a parte reputacional. Todos os nossos acordos são cumpridos, honrados, e a gente não ia se envolver com um time só para sair na mídia e não ter condições de honrar o investimento.

Iniciamos com esses dois times e temos outras propostas. Nós gostamos muito de fugir do tradicional e vamos na linha do que é melhor para a marca e para os nossos jogadores

Você veio de outra área profissional. Como foi esse período de adaptação ao universo das apostas?

Eu entrei no SeguroBet em agosto de 2022, fui entendendo como as pessoas trabalhavam e, na verdade, ressignificou meu background de tecnologia. Eu gosto de empresas que tenham a possibilidade de escalar. E aí o SeguroBet entrou nesse meu momento de estar trabalhando com outras startups. Foi altamente desafiador. Então, foi bom, porque eu tive que estudar e sair da minha zona de conforto para entender como é esse mercado nacional.

Vi como um mar de oportunidades, porque poderia exatamente fazer da maneira como eu acredito que deveria ser feito, que ninguém naquela época estava fazendo. Estava todo mundo preocupado em surfar uma onda, se capitalizar.

Como esse não é o primeiro negócio, eu penso um pouco diferente, penso no sentido de se construir uma história. Sim, ser feito um negócio, escalar esse negócio, mas de uma maneira ética, responsável e que possa ter uma longevidade.

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