O fenômeno das casas de apostas, que já domina o futebol profissional brasileiro, começa a se espalhar pelos campos de várzea, trazendo promessas de investimentos, mas também levantando questionamentos sobre os impactos sociais e financeiros nas comunidades. O tema foi abordado em uma reportagem especial publicada pela Agência Mural.
Conforme levantamento da matéria, em São Paulo, marcas como F12 Bet, Bet365 e Esportes da Sorte têm patrocinado campeonatos emblemáticos, como a Copa Negritude, Copa da Paz e Copa Martins Neto. Essas competições, conhecidas pela forte ligação comunitária, agora contam com o apoio financeiro das apostas, o que ajuda a revitalizar campos, custear uniformes e atrair visibilidade ao futebol amador.
Em entrevista à Agência Mural, Isaque Queiroz, representante da F12 Bet, avalia o movimento como promissor. “As bets enxergaram que têm entrada aqui e estão começando a investir, abraçando as comunidades também. É um mercado gigante, que tem mais potencial do que é utilizado hoje”, afirma. Apesar do otimismo, ele ressalta que “os times e copas ainda não estão 100% organizados para receber mais investimento, mas isso pode mudar”.
A várzea paulistana é um fenômeno cultural no Brasil, com bairros inteiros dedicados a apoiar seus times locais. Em algumas regiões, a paixão pelo futebol amador supera até mesmo o interesse por grandes clubes profissionais. Para Diego Oliveira, responsável pela página Varzianos, a entrada das casas de apostas pode transformar o cenário. “Devemos utilizar esse apoio financeiro como ferramenta para nos estruturar e expandir o esporte amador.” No entanto, ele alerta para os riscos: “Casa de aposta não é brincadeira. É importante lembrar que é um jogo de azar e a comunidade precisa entender que a chance de acertar um placar ou acontecimento em jogos não é 100%.”
A reportagem ressalta que as apostas em jogos de várzea ainda ocorrem de forma limitada. No entanto, já existem indícios de apostas informais realizadas por torcedores durante finais de campeonatos importantes, como a decisão da Copa Negritude entre Arsenal e Pioneer, que esteve disponível em aplicativos de apostas.
Enquanto alguns veem as bets como oportunidade de crescimento, outros questionam a distribuição dos recursos. Amaral, presidente do Jardim São Pedro, em Guaianases, na capital paulista, critica a concentração dos benefícios em equipes mais estruturadas. “Até agora, não estou vendo benefícios para times como o São Pedro, que são menos favorecidos financeiramente. Vejo as casas de apostas expandindo seus nomes, mas não vejo vantagens concretas para clubes em situações financeiras mais precárias”, lamenta.
Nego Edson, diretor do Botafogo de Guaianases, defende uma maior individualização nos patrocínios. Ele sugere que o apoio seja direcionado diretamente às equipes para auxiliar em despesas e projetos sociais, ao invés de beneficiar apenas os grandes campeonatos. “A presença das casas de apostas pode aumentar ainda mais a pressão financeira, pois os jogadores vão exigir mais pagamento. Eles sabem que há uma casa de apostas envolvida e isso complica a situação”, comentou à Agência Mural.