Um levantamento nacional realizado pelo Datafolha e encomendado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revela que aproximadamente 23 milhões de brasileiros apostaram em plataformas online em 2024, o equivalente a 15% da população. O número representa uma alta em relação ao ano anterior (14%), com as bets superando a adesão a produtos financeiros tradicionais como títulos públicos, fundos e ações.
Os dados fazem parte da oitava edição do estudo Raio-X do Investidor Brasileiro, conduzido anualmente para mapear os hábitos financeiros da população. A pesquisa ouviu 5.846 pessoas entre os dias 4 e 22 de novembro de 2024, em todas as regiões do país, incluindo jovens a partir de 16 anos, aposentados e inativos.
Pela primeira vez, o estudo incluiu uma análise mais profunda sobre o impacto das bets nas finanças pessoais. Uma das principais novidades é o índice de tendência ao vício em apostas, construído com base em indicadores internacionais. Os resultados apontaram que cerca de 3 milhões de brasileiros que apostaram em 2024 apresentam alta propensão ao vício, o que corresponde a 12% dos usuários dessas plataformas.
Nesta edição da pesquisa, a população foi dividida em quatro perfis financeiros. A maior parte dos brasileiros (52%) pertence ao Perfil Sem Reservas, formado por pessoas que não economizam nem investem. Já o Perfil Economiza e Não Investe representa 12% da população e reúne aqueles que conseguem poupar, mas não aplicam o dinheiro em nenhum produto financeiro.
O Perfil Caderneta, que corresponde a 20%, é composto por indivíduos que investem exclusivamente na poupança. Por fim, o Perfil Diversifica, com 17%, inclui os brasileiros que aplicam seus recursos em mais de um tipo de investimento.
Imagem: Anbima
As pessoas do Perfil Diversifica apostaram 60% a mais do que a média da população, seguidas pelo Perfil Economiza e Não Investe. O Perfil Caderneta é o que menos fez apostas.
Além disso, um público equivalente a 4 milhões de pessoas considera as apostas uma forma de investimento financeiro, evidenciando uma distorção na percepção sobre o risco associado a essa prática.
O comportamento dos brasileiros em relação às apostas varia conforme o perfil financeiro. Veja os destaques:
35% dos apostadores usam apps de apostas uma ou mais vezes por semana
No Perfil Sem Reservas, esse índice sobe para 37%
No Perfil Caderneta, cai para 30%
46% afirmam que apostam raramente
Sobre os gastos mensais com apostas:
Média geral de R$ 216 por mês
Entre aqueles que apostam raramente, o valor cai para cerca de R$ 102
Perfil Diversifica:
Média de R$ 241
Perfil Sem Reservas: média de R$ 236
Perfil Economiza e Não Investe: R$ 184
Perfil Caderneta: R$ 144
“O estudo busca capturar tendências sobre a relação das pessoas com o dinheiro. É vasto em informações e permite o cruzamento de dados que ajudam a tornar o mercado financeiro mais inclusivo”, diz o relatório.
Outro destaque da pesquisa é o Índice de Estresse, lançado em 2023, que complementa os achados sobre o peso financeiro das apostas no bem-estar psicológico da população brasileira.
A chance de ganhar dinheiro é o principal fator que motiva os brasileiros a apostar, especialmente em um contexto de alto endividamento — cenário que se mantém semelhante ao de 2023.
Os perfis Sem Reservas e Caderneta são os que mais buscam ganhos rápidos como saída para dificuldades financeiras, associando as apostas à necessidade.
Já o Perfil Diversifica é o que mais aposta por diversão, encarando a prática como entretenimento.
Entre os 16% dos apostadores que enxergam as apostas como um tipo de investimento, 67% esperam ganhar dinheiro rápido ou uma grande quantia.